Retrato da adoção no Brasil

Entre os aspectos que dificultam a adoção estão a falta de disponibilidade para adotar irmãos, a questão racial e principalmente a restrição de idade.
Criadas em orfanatos e abrigos infantis, no Brasil há cerca de 7 mil crianças a espera de um lar. Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), são crianças de zero a 17 anos, distribuídas por todo o território nacional. Com 43% das crianças cadastradas, a região sudeste concentra a maior quantidade de propensos a adoção. No estado de Santa Catarina, são 217 crianças, totalizando 3% da média nacional.
Por outro lado, existem cerca de 40 mil pessoas cadastradas na fila de espera da adoção. Segundo uma pesquisa realizada em 2006 pelas psicológicas, Elza Dutra e Ana Andréa Barbosa Maux, a infertilidade é a principal motivadora da adoção. Outras razões que inspiram é a vontade de ajudar o próximo e até mesmo, para suprir a perda de um filho.
A dona de casa, Rute Estabelini, ressalta que após adotar a filha Brenda, sua vida se transformou. “Foi um processo de três anos, entre espera, reuniões e visitas. Ela trouxe tudo de bom para nós. É a alegria da nossa casa. Mudou o relacionamento, a convivência, tudo”, afirma a adotante.
Existem, no entanto, algumas questões que impossibilitam a adoção e são responsáveis pela discrepância dos números de adotante/adotável. Entre elas estão a falta de disponibilidade para adotar irmãos, questão racial e principalmente a restrição de idade. Segundo reportagem publicada no site do Senado, apenas 25% dos adotantes está disponível a realizar a adoção tardia, ou seja, de crianças maiores de quatro anos de idade.
Para a assistente social da Vara da Família, Infância e Juventude da cidade de Balneário Camboriú, Deolinda Raiser, esta exigência é resultado da crença de que quanto mais nova a criança, melhor será a adaptação. “Tem que começar a trabalhar com as pessoas para mudar este perfil. A maioria quer bebê, de zero a três anos. É o sonho da maioria, pois acham que a criança vai se integrar melhor, pegar a maneira da família”, concluiu Deolinda.
Segundo o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA), atualmente 88% das crianças que vivem em abrigos se enquadram na adoção tardia. Uma das razões para os futuros pais preferirem adotar crianças menores de um ano, é a recordação de traumas sofridos. Para Deolinda Raiser, a adoção tardia precisa de maior dedicação, por isso é uma opção rejeitada pela maior parte dos adotantes.
“Quando a criança é destituída do poder familiar, ela passa por um momento de luto. Ela irá descontruir esse vínculo com a família biológica, e depois de um tempo ela estará preparada para aceitar uma nova família. Então, os adotantes precisam estar bem preparados para lidar com os traumas e dores que a criança carrega com ela”, ressalta Deolinda.
Em entrevista concedida ao site JusBrasil, o juiz da Vara da Infância e da Juventude, Protetiva e Cível da Comarca de Guarulhos, Iberê de Castro Dias, disse que para a adoção tardia não há fila. Infelizmente, segundo relatou o juiz, os futuros pais não têm interesse em crianças maiores de três anos. E elas são maioria. Já ao contrário da adoção tardia, a espera para adotar crianças do gênero feminino, brancas e com menos de um ano, o desejo da maior parte dos pais, pode demorar até 10 anos.
A adoção pode mudar a vida e o destino de quem recebe um novo lar. A empresária Scheila Nascimento, adotada há 24 anos atrás, acredita que sua vida teria seguido um rumo bem diferente, caso não houvesse sido acolhida. “A minha experiência é maravilhosa. Eu fui adotada por uma família amorosa, que nunca fez distinção comigo. Se eu não tivesse sido adotada, possivelmente eu seria uma moça de rua, drogada. Eu pretendo, no futuro, adotar para dar amor e carinho assim como eu recebi”.
Para adotar, existem algumas medidas que o adotante necessita cumprir. Obrigatoriamente deverá ser maior de 18 anos. O estado civil, neste caso, é irrelevante. O futuro pai ou mãe precisará também ter uma diferença mínima de 16 anos do adotado. A família adotante deve passar por um preparo, que visa discutir os aspectos sociais, jurídicos, culturais, educativos e refletir sobre os preconceitos que existem no ambiente social. A preparação busca auxiliar os pais nas questões processuais, na espera, no acolhimento e trabalhar com as motivações para que o ambiente familiar esteja bem organizado para receber um novo membro.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a adoção no Brasil leva cerca de um ano. São em torno de dez passos até a finalização do processo. Entre eles, a decisão de adotar, cursos e avaliações, traçar o perfil desejado, conhecer o futuro filho e finalmente, receber a sentença do juiz determinando a lavratura do novo registro de nascimento da criança.