Sabão caseiro é alternativa para o uso sustentável do óleo de cozinha

Moradoras de Itajaí buscam colaborar com o meio ambiente aproveitando o excedente da gordura utilizada para a preparação de alimentos

Desde o ano de 2010, todas as cidades brasileiras são obrigadas a dar um destino adequado ao lixo que os moradores produzem. Porém, oito anos depois, poucas foram aquelas que conseguiram. A Política Nacional de Resíduos Sólidos determinou o fim dos lixões a partir de 2014. Porém, 53% das cidades ainda possuem lixões, e 24% das casas brasileiras não têm serviço de coleta de lixo. Das mais de 3,3 mil cidades brasileiras analisadas, apenas 0,02% atingiram o nível considerado muito alto no índice de sustentabilidade da limpeza urbana. Em Santa Catarina são as cidades Braço do Trombudo e Itapiranga.

Itajaí tinha em 2012 o maior índice de desenvolvimento sustentável entre as 10 maiores cidades do Estado: 0,777. Na área sociocultural a cidade atingiu o índice de 0,783; no campo econômico, 0,767; o índice ambiental marcou 0,746 e o político institucional ficou em 0,811. Esses são dados do Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Municipal Sustentável (SIDMS), recolhidos pela Federação Catarinense de Municípios (Fecam). Hoje não se tem certeza da posição estadual de Itajaí, porém, algumas mulheres fazem sua parte e contribuem para criação de uma cidade mais sustentável.

Este é o caso de Cleia da Cunha Blanger. Dona de casa, com 42 anos, há cinco anos fabrica em casa sabão a base de óleo caseiro. A qualidade e durabilidade do sabão foi o principal motivo para começar a fazê-lo em casa. Cleia tem o costume de, após produzir o item, distribui-lo para familiares e conhecidos, além, é claro, de incentivar os mesmos a seguirem seu exemplo. Ela explica que antes de conhecer esta receita caseira, não sabia como fazer a destinação correta do óleo utilizado na cozinha, e acabava despejando na pia ou no quintal de sua casa. “Hoje tenho a alegria e a certeza de ser uma ótima atitude de ajuda ao meio ambiente”, afirma Cleia.

O processo de fazer o sabão com o óleo de cozinha já utilizado é simples. São apenas quatro ingredientes utilizados, facilmente encontrados em casa. São eles: 4 litros de óleo de cozinha, 1kg de soda cáustica, aproximadamente 2 litros de água quente e aproximadamente 1 litro de álcool. Em um recipiente grande, a água quente é despejada junto a soda cáustica, e os ingredientes devem ser cuidadosamente mexidos, com uma colher de pau ou um pedaço de madeira, preferivelmente com luvas, até a soda dissolver por completo. Em seguida, o óleo deve ser despejado por completo e o álcool deve ser despejado aos poucos. Aí é só deixar descansar a mistura até o dia seguinte e cortar no formato desejado. É importante lembrar que ao manusear esses ingredientes, principalmente a soda cáustica, é necessário tomar muito cuidado para que o produto não entre em contato com a pele. Além disso, é essencial procurar a orientação de alguém que já tenha experiência neste assunto.

Para quem tem prática, o trabalho é quase intuitivo. Zenilda Garcia de Souza, de 71 anos, também faz a sua parte. Há quatro anos ela aprendeu com uma cunhada a receita para fazer sabão caseiro e passou a utilizar o óleo utilizado em sua casa para esse fim. Antes disso, ela já procurava dar um destino correto ao resíduo, porém não sabia como fazê-lo. Agora distribui o sabão que faz entre sua família e usa no dia-a-dia.

Ainda que muitas pessoas já tenham a consciência de dar um destino correto ao seu óleo de cozinha, como é o caso de Cleia e Zenilda, muitas ainda ignoram os prejuízos causados ao meio ambiente. Esses geralmente jogam o óleo no ralo da pia ou em terrenos baldios. No primeiro caso, além de causar o risco de entupir as instalações sanitárias e as redes de esgoto, o descarte no ralo da pia ainda encaminha o resíduo para os rios, mares e represas, o que causa danos à fauna aquática e muitas vezes pode impossibilitar a utilização para o consumo humano. No segundo caso, o descarte em terrenos baldios causa a impermeabilização do solo, auxiliando as enchentes e destruindo a vegetação.

Andrea da Veiga, 40 anos, assume que mesmo sabendo dos prejuízos que o descarte incorreto do óleo causa ao meio ambiente, ainda joga na pia o pouco óleo que utiliza. Ela explica seu comportamento, primeiro culpando a correria do cotidiano, que acaba tornando o meio mais prático do que adotar medidas sustentáveis, e em seguida suas influências no passado, já que sempre presenciou a mãe jogando nos bueiros da rua.

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