Era noite de 31 de outubro de 2002. Em plena noite de Halloween, uma das histórias de terror mais assustadoras que o Brasil já viu acontecia em uma mansão da zona sul de São Paulo. Uma jovem de 19 anos, ajudada por seu namorado e pelo irmão dele, planejara o assassinato dos pais. Quase vinte anos depois, o caso foi parar nas telas de cinema.
Os filmes sobre o caso Richthofen foram lançados no último mês de setembro pela plataforma de streaming Amazon Prime Video. Cada filme relata a visão dos acusados do crime. “A Menina que Matou os Pais” traz Suzane como uma garota mimada que odeia a família e que manipula Daniel Cravinhos e seu irmão Christian. Em “O Menino que Matou Meus Pais” ela é uma garota ingênua e pura, que caiu no plano da família Cravinhos, que queria somente seu dinheiro.
A produção audiovisual dos filmes foram produzidas totalmente baseadas nos depoimentos dos acusados em 2006, a publicitária e mestre em Ciências da Linguagem Adriana Stela Bassini Edral (38) destaca. “Acredito que o roteiro e a direção do filme foram muito bem sucedidas. A produção se preocupou única e exclusivamente com materializar em imagens os depoimentos e nada mais. Não há interesse ou preocupação, por parte do filme, em apurar fatos, mas sim somente em transformar os depoimentos em imagens”.
O projeto foi dirigido por Maurícia Eça e roteirizado por Ilana Casoy e Raphael Montes, e apresenta uma forma original e inovadora de abordar o “true crime”, gênero cada vez mais popular no Brasil, comenta Adriana. “O crescimento do true crime no Brasil é um caso claro de como a linguagem comercial hollywoodiana consegue atravessar o cinema mundial. A criação desses produtos culturais no Brasil tem a ver com uma audiência bem sucedida de filmes e documentários estadunidenses do mesmo gênero”.
As adaptações cinematográficas sobre os filmes entraram para a história do audiovisual brasileiro, ressalta o professor de roteiro e audiovisual e doutor em Comunicação e Linguagens Rafael Bona (41). “Para não ter nenhum problema de processo ou direito autoral, eles tomaram muito cuidado em fazer exatamente o que foi falado nos depoimentos, na frente do juiz. Para não ter nenhum perigo em que o roteirista não tivesse entrado na questão da licença poética. A licença poética é quando se dá um “ar” para a adaptação, colocando alguns elementos que não constavam na história original.”
A procura pelo filme “A Menina que Matou os Pais” foi a que mais cresceu no Google após o lançamento. Segundo o próprio Google, as consultas pela obra cresceram +3.780%. As buscas pelo caso Richthofen também dispararam +2.490% em comparação aos 7 dias anteriores ao lançamento.
Trazer dois filmes com a mesma história é uma novidade no mercado audiovisual. Para a produtora audiovisual e fotógrafa Dagma de Castro (57) o modelo não foi o mais assertivo. “Os filmes dizem a mesma coisa, por diferentes olhares, tornando-se arrastados e repetitivos. O que seria uma boa opção, que poderia trazer mais dinâmica, poderia ser a construção de apenas uma história com recortes de olhares dos protagonistas. O que traria, de certa forma, um formato mais criativo para a obra”.
Para aqueles que consomem conteúdos sobre crimes reais e já conheciam o caso Richthofen, os longas não acrescentam muitas informações, diz Rafael. “Justamente por se tratar de uma obra baseada em autos do processo que já estavam disponíveis, os filmes ilustram as informações faladas pelos acusados, no entanto despertam a curiosidade dos telespectadores”.