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Vigorexia: quando o espelho distorce a busca pelo corpo perfeito

A vigorexia é um transtorno mental que afeta na percepção que as pessoas têm da própria imagem corporal

Profissionais da saúde e da área da Educação Física apontam que vivemos uma era do corpo fitness. Buscar o bem-estar e estar saudável a partir da prática de exercícios físicos é um caminho muito bom. Porém, é preciso avaliar a imagem que temos do nosso próprio corpo e estabelecer limites e padrões condizentes. A visão distorcida da autoimagem acarreta na prática exagerada de exercícios físicos e pode ser sinal de vigorexia. Os vigoréxicos têm uma preocupação excessiva com seu físico e sua força. Quando se olham no espelho enxergam um corpo franzino e sem massa muscular, mesmo a realidade sendo completamente diferente. Eles sentem uma necessidade compulsiva em manter uma dieta e um plano de exercícios físicos rigorosos, visando atingir o estereótipo físico que consideram ideal. 

O médico Drauzio Varella, em sua página no portal UOL, classificou a vigorexia como um subtipo do Transtorno Dismórfico Corporal. O TDC é um transtorno mental que afeta na percepção que a pessoa tem da própria imagem corporal. Quando os vigoréxicos se olham no espelho, eles se veem fracos e magros, apesar de serem fortes e musculosos. 

A vigorexia não está classificada no CID – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – e, por esse motivo, não têm sintomas, diagnósticos ou tratamentos específicos. Entretanto, existem algumas atitudes que se repetem em diferentes casos de vigorexia, as quais os especialistas se atentam. Para a nutricionista e especialista em nutrição estética e esportiva Luana Wachholz a dificuldade em classificar esse transtorno está nos poucos estudos existentes, já que uma pequena parcela da população apresenta-o. 

Segundo Luana, a vigorexia começou a ser notada e estudada na década de 1990, então é considerado um distúrbio muito recente. Ela acrescenta que não tem uma causa específica, mas sim vários fatores que contribuem para que a vigorexia seja desenvolvida. Um desses fatores é a imposição e aceitação de acordo com os padrões de belezas. 

Ao longo dos séculos é possível perceber que sempre houve um modelo de beleza considerado perfeito e um exemplo a ser seguido. Apesar de existir movimentos que lutam para quebrar o padrão Barbie e Ken estabelecidos pela mídia, muitas pessoas querem seguir e conquistar os padrões estéticos impostos. Para o professor do curso de Educação Física da Univali Alexandre Gomes, as pessoas também vão à academia em busca de um corpo que esteja dentro dos padrões de beleza deste momento, um padrão de corpo perfeito estipulado pela mídia através de modelos e artistas. “O corpo perfeito vem mudando a cada momento, já foi padrão de beleza um corpo cheinho, magro e, nesse momento, estamos na era fitness, no qual o padrão de beleza é musculoso, corpo forte e atlético”, apontou Alexandre. 

Luana comenta que, pela literatura e pelos estudos, o perfil mais comum de quem desenvolve a vigorexia são homens jovens, entre 20 e 30 anos, praticantes de exercícios físicos e preocupados com alimentação e ganho muscular. A nutricionista frisa que nem todos que apresentarem essas características, necessariamente, são vigoréxicos. Alexandre comenta que o ideal seria que os instrutores tentassem observar, na academia, se seus alunos exigem e criticam duramente o próprio corpo, se eles usam suplementos em excesso, esteróide, ou alguma outra substância semelhante, ou se alteram, significativamente, de humor.

O personal trainer André Gustavo Vieira coordena a academia Class Time, em Itajaí, voltada para o wellness – diferente do fitness que visa o condicionamento físico, o wellness tem como objetivo o bem-estar. Ele percebeu que quem procura a Class Time com foco exclusivamente no aprimoramento físico não continua a frequentá-la, já que o ambiente possui um viés diferente. O vigoréxico procura se esforçar, mesmo lesionado, em exercícios que fortalecem e aumentam a sua musculatura. Ele se cobra, faz treinos pesados e diários tudo para mudar a imagem distorcida que enxerga quando olha no espelho.

Os pacientes que sofrem com esse tipo de transtorno têm a tendência de continuar sua rotina pesada de atividades físicas mesmo estando machucados. Esse é um dos malefícios causados pela vigorexia. Luana aponta, também, que muitos fazem uso de anabolizantes e que, em excesso, podem causar câncer, além de sobrecarregar o sistema digestório com o grande consumo de alimentos calóricos que garantem massa muscular. Além disso, o psicológico e emocional também são afetados. A nutricionista recomenda que os pacientes procurem ou sejam encaminhados para psiquiatras ou psicólogos, para que passem por um tratamento adequado. 

Vigorexia vs Fisiculturismo

A vigorexia é um distúrbio que faz com que as pessoas tenham uma imagem distorcida do seu corpo em relação a sua massa muscular. Por muitas vezes ela acaba sendo confundida com o fisiculturismo, o esporte em que tem como objetivo desenvolver massa muscular a partir de exercícios físicos e dieta alimentar especial. Para a nutricionista Luana Wachholz, existe uma linha tênue entre a vigorexia e o fisiculturismo, já que os atletas querem resultados que dependem do corpo. Luana ainda complementa dizendo que a vigorexia ainda é transtorno considerado novo e, por isso, precisa haver mais estudos e profissionais que expliquem e esclareçam as diferenças entre eles. 

Já para o profissional de Educação Física e especialista em saúde Alexandre Gomes o fisiculturismo é um esporte no qual seus atletas dependem do corpo perfeito. “Se a pessoa não trabalha profissionalmente como fisiculturista, ela não pode ser confundida como um”. O mestrando em saúde e personal trainer André Gustavo complementa dizendo que o atleta de fisiculturismo possui, geralmente, uma equipe de médicos, treinadores e nutricionistas que o prepara e acompanha no seu desempenho para a competição. No caso de um vigoréxico que procure um treinador físico, ao longo dos treinamentos, o profissional irá identificar algumas situações que o levarão a encaminhar essa pessoa para algum tratamento psicológico.

Um treino saudável, que não prejudique nem esgote fisicamente nem emocionalmente o praticante, deve ser elaborado em conjunto entre o interessado e um profissional da área. Variar os exercícios, séries e metodologias é uma das dicas de Alexandre. “Um treino saudável é aquele em que você consegue alcançar o bem-estar em todas as capacidades, seja o bem-estar mental, físico ou mental”, conclui  Alexandre Gomes.

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