O Brasil atingiu 263 mil casos de violência doméstica em 2018, segundo dados do Núcleo de Estudos da Violência-USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
As mulheres ocupam cada vez mais espaço dentro da sociedade. Se décadas atrás não podiam estudar e trabalhar, hoje mostram que não existe o tal “sexo frágil”. Apesar da autonomia que as mulheres possuem, ainda há homens que exercem poder sobre elas através dos relacionamentos abusivos. O abuso pode se manifestar de várias formas, com a violência física, psicológica, patrimonial e moral.
Segundo dados de uma pesquisa de 2013 do Instituto Avon e Data Popular, 53% dos homens já xingaram a parceira, 9% ameaçaram com palavras e 1% ameaçou com armas de fogo. Ainda segundo essa pesquisa, 59% dos homens eram de classe alta. O Sistema de Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (SONDHA) recebeu, no primeiro semestre de 2019, 1.921 denúncias de violência moral e 1.844 denúncias de ameaças. Além disso, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão algum tipo de violência em um relacionamento afetivo. A vítima não percebe com facilidade que está em um relacionamento abusivo, já que a violência não se manifesta apenas fisicamente.
Você sabe como identificar um relacionamento abusivo? Segundo a psicóloga Marina Corbetta, tudo começa com o desmerecimento do outro, com falas que desvalorizam os atributos físicos e chantagens emocionais. O parceiro utiliza formas que diminuem a vítima, fazendo com que ela acredite que só ele lhe faz bem. Isso se caracteriza como uma das formas de violência psicológica. Porém, a violência física é uma das formas mais comuns. De acordo com dados do Núcleo de Estudos da Violência – USP (NEV-USP) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil atingiu 263 mil casos de violência doméstica em 2018, ou seja, a cada dois minutos uma mulher foi a uma delegacia e relatou que foi vítima de violência física pelo parceiro.
Marina ainda comenta como a relação acontece a dois. Ela observa a dinâmica relacional e como ela funciona. “Pensar em relacionamentos abusivos é pensar muito em perfil de relação”. Não é sobre como uma pessoa é em essência, mas como ela age em casal. A personalidade do agressor geralmente é de alguém inflexível, com dificuldade de compreender que o outro possui uma vida própria. Nem sempre a pessoa abusiva possui esse perfil, mas adquire com o tempo de relação.
As marcas do relacionamento, mesmo quando não são físicas, podem afetar como a pessoa se enxerga e enxerga as próprias relações. Danos psicológicos, insegurança, estresse e ansiedade são alguns dos efeitos deixados por um relacionamento que não é saudável. Não há remédio ou cirurgia que cure, mas a ressignificação é o processo para superar esse tipo de relação. “É necessário olhar todos os ângulos e todos os envolvidos, analisar como foram os posicionamentos, o que me fortaleceu e me favoreceu a sair desse tipo de relacionamento”, finaliza a psicóloga Marina.
Nem sempre o final é feliz para a vítima. Apesar de que cortar vínculos é a melhor forma para sair de um relacionamento abusivo, o parceiro agressor dificilmente aceita esse rompimento. Em casos mais extremos ocorrem ameaças e, até mesmo, mortes. Para isso é necessário estar atenta e contar a situação para pessoas de confiança, além de procurar uma delegacia especializada e relatar sobre a violência e perseguição sofrida.
O artigo 5° da lei Maria da Penha condena qualquer tipo de violência, seja ela física ou psicológica. Entretanto, muitas das denúncias de violências silenciosas – psicológica, moral e patrimonial – não são aceitas em tribunais por não conterem nenhum tipo de prova visível, como o caso de um hematoma de uma agressão. Mesmo assim, é sempre importante recorrer a delegacias e órgãos especializados para receber apoio, amparo e todos os cuidados necessários.