Livro de Stephen King e Richard Chizmar narra a história de uma jovem e seus dilemas
Um dos ditos populares mais reveladores é: “Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela”. O poder e, muitas vezes, o livre arbítrio podem ter efeito contrário, geralmente negativo, quando exercido por pessoas sem discernimento e, principalmente, senso de justiça.
Este é o dilema vivido pela pequena Gwendy Peterson, uma menina simples, que como grande parte das adolescentes enfrenta os dilemas e problemas da vida escolar. Se por um lado suas notas sempre foram medianas, seu peso acabou sendo seu principal diferencial, um diferencial negativo. Como uma menina vai conseguir separar suas mágoas e trilhar o caminho do bem?
É o que o leitor vai descobrir em “A Pequena Caixa de Gwendy”, escrito por Stephen King em parceria com Richard Chizmar, lançado no Brasil pela editora Suma. Ele foi uma das quatro obras que a editora lançou em 2018. As outras foram A Incendiária, Celular e Outsider.
Quem acompanha o trabalho do mestre King sabe o tamanho dos seus livros. Com 167 páginas, a história poderia ser considerada um conto, mas seu enredo e características a classificam como romance, já que possui um núcleo principal, e outras nuances vão se desenvolvendo durante a história. Ao contrário do conto, que em sua maioria narra de forma resumida um fato, em um curto espaço de tempo.
A história se passa em Castle Rock, cidade fictícia, cenário de vários livros de King, entre 1974 e 1984. O lugar é estranho, nada parece ser normal por aqueles lados. Gwendy vai entender isso quando Richard Ferris, um senhor de terno preto, persuasivo, a “escolhe”. Ele lhe empresta uma estranha caixa, bonita. Sua única função é ser parcimoniosa com os botões, que só devem ser pressionados em extrema necessidade, ou sequer tocados. Como prêmio de consolação, ela pode usufruir de estranhos chocolates e moedas de prata, que saem de pequenos espaços nas laterais do objeto de madeira.
A menina hesita, mas acaba aceitando. Seus problemas com peso, o casamento dos seus pais e o sonho da faculdade começam a ser misteriosamente resolvidos. Ela fica magra, se torna popular no colégio, e arruma um namorado. Seria efeito da caixa? Gwendy não quer aceitar, mas sabe que a estranha caixa de mogno tem sua culpa.
Como devolver o “presente” para o estranho Sr. Ferris? O que acontece se ela apertar os botões coloridos? Até quando chocolates e moedas vão continuar sendo fornecidos? Qual o preço disso tudo no futuro?
Com uma narrativa intensa, a história é dividida em capítulos, com cada ação de Gwendy narrada em um, seja ele pequeno, com apenas uma página, ou extenso. O que pode causar estranheza em alguns leitores acostumados com a prolixidade de King.
Leitores mais antenados vão encontrar semelhanças nos contos “Tudo é Eventual”, presente no livro do mesmo nome e “Extensão Justa” do livro “Escuridão Total sem Estrelas”. Nessas histórias seus protagonistas também são agraciados com presentes e precisam escolher de que forma viverão com essas dádivas.
Quem gosta de histórias envolvendo figuras sinistras, homens de fino trato com seus ternos extremamente alinhados, interlocutores do diabo, ou o próprio, curtirão o livro que vem com capa dura, tamanho reduzido e ilustrações de Ben Baldwin e Keith Minnion.
O único senão? O final. Durante todo livro questionamos, o que acontece com a caixa? Ela é destruída, vendida ou perdida? Quem espera um final surpreendente, pode se decepcionar.
Conexões
Como é de costume conexões com outras obras do mestre, são possíveis. Em entrevista ao site Entertainment Weekly, King declarou que Elevation, seu último livro, seria continuação de A Pequena Caixa de Gwendy, por ser ambientado em Castle Rock, entre outras coisas.
Elevation conta a história de um homem que começa a perder peso, mas sem mudar de manequim. A premissa é a mesma encontrada em “A Maldição”, quando um homem fica magro demais depois de ser amaldiçoado por ciganos.