
A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. A cada 90 minutos, uma mulher é morta apenas por ser mulher. Os números são do 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto.
Ainda que os números apontem um cenário machista e misógino, alguns ainda vão dizer que as feministas são todas chatas e que é tudo “falta de rola” mesmo. Mas é claro, deve ser muito difícil entender igualdade de gênero quando você passou a vida toda acreditando que as mulheres existem para servir.
E é nesse contexto que surge a cultura do estupro. A cultura do estupro é a cultura que normaliza a violência sexual. Através da objetificação do corpo feminino, da banalização do assédio e do tratamento da mulher como propriedade.
Consentimento é um conceito-chave para compreendermos e admitirmos que existe uma diferença entre sexo e estupro. Sexo é consensual, e se for adiante sem consentimento, deixa de ser sexo e passa a ser estupro. Estupro é prática não consensual do sexo, seja por ameaças ou violência de qualquer natureza. Seja qual for a situação, qualquer que seja a roupa que a pessoa esteja vestindo ou o quanto interessada ela pareça estar, o “não” é sempre “não”.
A cultura do estupro é visível nas imagens publicitárias, nos livros, filmes, novelas e seriados que romantizam o perseguidor. Um exemplo recente é a campanha de carnaval “Esqueci o ‘não’ em casa”, da Skol. Mensagem que vai diretamente na contramão do que as mulheres têm tentado reforçar há anos, de que quando uma mulher diz “não”, ela quer dizer “não” mesmo. Nada de “talvez”, ou “quem sabe”, ou até “sim”.
A cultura do estupro acontece no momento que aceitamos como normal recomendar às meninas e mulheres que não saiam de casa à noite ou sozinhas, ou que usem roupas recatadas. Um típico argumento de culpabilização da vítima, que se revela em comentários como “se ela estivesse estudando isso não aconteceria”, “se ela estivesse trabalhando isso não aconteceria” ou “se ela fosse mais família isso não aconteceria”.
Todas essas ações revelam o que chamamos de cultura de estupro, porque todas expressam que a responsabilidade pelo estupro é da vítima. Não é. O protagonista do estupro é o estuprador. Sempre.