Uma fração da experiência que é conversar com um dos maiores fotógrafos de Santa Catarina
Com uma respiração tranquila, andar elegante, olhar de reflexão e uma fala carregada de vivências, Marcos Porto detalha e aborda as experiências que compõem e dão vida a sua personalidade e, principalmente, a sua memorável arte. Aos 55 anos, o fotógrafo itajaiense, que por vezes registrou a história de brasileiros e catarinenses, desta vez compartilha sua infindável história.

A paixão pela fotografia começou, como todos os grandes artistas, enquanto era jovem. Sendo o filho do meio entre três irmãos, Porto era o mais extrovertido e disposto a explorar o mundo. Durante a adolescência, enquanto buscava estudo na Univali, teve contato com revistas e jornais franceses que continham fotos do Bataclan, prédio de Paris. Além de livros religiosos de sua família que, através de gravuras, transmitiam uma vivacidade de cores invejável e inspiradora.

Este seu primeiro contato com a fotografia trouxe à tona dúvidas sobre como o artista expressava aqueles sentimentos e emoções, apenas com o clique da câmera. Esses questionamentos foram o gatilho que despertou o interesse sobre esta arte. Aos 18 anos adquiriu a primeira câmera, e, mesmo com o fracasso das primeiras fotos, foi através da prática e experiência ao longo dos anos que alcançou a recordável maestria de seu trabalho.
“Não é ter o ego de sair no jornal, é a vontade de ser o olhar do leitor”
Ao longo de sua carreira profissional, que mesmo após 35 anos de experiência continua ativa, Marcos Porto viveu diversas vidas em apenas uma. Realizou o registro de várias ações policiais, enchentes históricas em Santa Catarina, a cobertura da calamidade ocorrida no Morro do Embaú, jantares e registros de eventos com celebridades, entre outros. Tudo isso, alinhado a trabalhos cotidianos na maior emissora do estado, foi responsável por compor a vasta e imensurável experiência do currículo.
Não há como deixar de mencionar os trabalhos históricos e premiados. Entre eles, a foto do trágico acidente com o pintor que acabara de cair de seu suporte de trabalho. Fotografia essa que, além de polêmica pela sensibilidade do momento, foi reconhecida e premiada internacionalmente. Além disso, este registro foi responsável por reivindicar diversas evoluções na segurança do ofício retratado.

“Se você tem que fazer uma coisa nessa vida é amigos, não inimigos”
Através de suas histórias, Marcos Porto evidenciou o que, em sua visão, seria a característica mais importante para um fotógrafo. Para ele, o fotógrafo tem somente a função de registrar, sem ser parte ou intervir no acontecimento. O artista não está lá para ser autoridade no assunto, mas ser a sutil visão de um espectador. Em sua opinião, o fotógrafo tem o poder de contar histórias, e sua presença enquanto profissional não deve alterar ou atrapalhar no processo do momento.
Impressões sobre Marcos Porto
Porto deixou claro seu amor pela fotografia e pela vida, e cada detalhe que compõe a mesma. Sua calma e sutileza ao contar as histórias são reflexos de sua visão de um mundo mais tranquilo e positivo. Mesmo sendo responsável pelo registro de momentos chocantes, isso nunca impediu que continuasse contribuindo para evolução dessa ferramenta no país. Mesmo sendo uma pessoa de pouca mídia, isso nunca impediu que se tornasse a referência que é hoje na área.


O fato é que ao entrevistar Marcos Porto percebe-se que suas experiências poderiam facilmente compor um livro, com riqueza e valor incalculável de conhecimento. Até porque existem sentimentos que palavras não conseguem transmitir, seria necessário algo mais abstrato, tal qual uma foto ou até mesmo a imaginação humana. Este texto buscou contar um milésimo da fração de quem é Marcos Porto, mas para além disso, valorizá-lo como pessoa, profissional e artista que contribuiu tanto para a fotografia.
Sentado em uma cadeira de diretor e sendo protagonista, como nunca teve o objetivo de ser, Marcos Porto demonstrou sua simplicidade e sua gratidão pela jornada que experienciou ao longo de seus 55 anos. Aos estudantes que estavam na sala, impressionados pela sua vivência e comovidos por sua história, a única certeza que ficou é que este fotógrafo, ou artista – como preferir -, em nenhum momento de sua existência, deixou de amar a vida.

–Entrevistador : Marcos Porto, você se apaixonou por algo além da fotografia na sua vida?
–Marcos Porto: Sim, por tudo. Pela vida.