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Período eleitoral é marcado por violência

Violência eleitoral

No dia 30 de outubro, o Brasil decidiu o presidente que irá governar o país pelos próximos quatro anos. O candidato Luiz Inácio Lula da Silva, derrotou o então presidente da República, Jair Bolsonaro, com 50,9% dos votos.

Com uma campanha eleitoral marcada pelo combate às fake news e pelos ataques entre os principais candidatos à presidência, a violência política ganhou grande destaque neste período.

Segundo um levantamento realizado pelas organizações sociais de direitos humanos Terra de Direitos e Justiça Global, houve um aumento de 400% dos casos de violência política e eleitoral no país, se comparado ao ano de 2018, quando aconteceu a penúltima eleição presidencial. 

Essa pesquisa acompanhou os dados divulgados pelos meios de comunicação do dia 2 de setembro até o dia 2 de outubro de 2022, data do primeiro turno das eleições.

Na pesquisa realizada, ocorreram 523 registros de violência contra agentes políticos, ou seja, todos aqueles que ocupam algum cargo governamental, como por exemplo, governadores, prefeitos, senadores, entre outros. 

Confira o gráfico disponibilizado pela organização Terra de Direitos:

Gráfico divulgado pela organização Terra dos Direitos que mostra o aumento dos casos de violência eleitoral no Brasil.
Gráfico divulgado pela organização Terra dos Direitos que mostra o aumento dos casos de violência eleitoral no Brasil.
Foto: Terra dos Direitos

Conforme mostra o gráfico, os casos de ameaças, agressões e ofensas são mais do que o quíntuplo em relação às eleições de 2018. Os casos registrados de agressões até o primeiro turno das eleições de 2022, foram de 63 pessoas, já em 2018, foram somente 6 agressões.

A violência vivida pelos políticos

Essa violência fica ainda mais perceptível quando conversamos com pessoas que trabalham diretamente com política. A ex-candidata a deputada estadual de Santa Catarina, Ciça Muller, compartilha a violência que sofreu.

“Sofri perseguição política recentemente, meu nome apareceu numa lista de empresas/pessoas ‘Petistas’, que incitavam o boicote comercial. Foi um choque, me senti muito mal e desconfortável em relação aos meus próprios clientes”, afirma a ex-candidata.

Para Ciça Muller, que é uma defensora de causas feministas e ambientais, a sociedade está muito intolerante e doente, por isso está agindo com toda essa agressividade.

Assim que questionada sobre o que a sociedade pode fazer para que isso não aconteça, Ciça é bem pontual: “Falar abertamente sobre essas questões, compartilhar informações, promover debates e eventos para combater a violência política”.

Medo da violência eleitoral

Nessas eleições, mais do que em todas as outras, ficou perigoso mostrar qual candidato ou partido você sente identificação. As declarações de fanatismo e incompreensão. As redes sociais, mais do que em qualquer outra situação, se tornaram armas onde você pode expressar toda a sua hostilidade e mesmo assim sair impune.

Além dos candidatos políticos, uma parte da população também sofreu violência política. Ofensas, agressões, ameaças e até mesmo atentados. O eleitor Marcos Neves, expõe uma das situações que enfrentou. “A internet ainda é um campo sem lei, foi um dos espaços que mais fui atacado, mensagens de ódio, preconceito e intolerância, que misturada ao discurso dito político, me atingiam por inteiro”.

Interrogado sobre como ficou a segurança ao sair para exercer o direito de voto, Marcos afirma que o sentimento era de receio e medo, porém, decidiu acreditar nas instituições do Brasil.

“Acredito na reconstrução desse país no diálogo, no respeito e nas divergências de ideias”, pontua Marcos Neves. Ele ainda acredita que é dessa forma que vamos crescer e assim nos tornarmos uma nação que realmente ama o seu país, suas diversidades e sua população.

A estudante de Relações Internacionais, Yane Lucilia Alves, sofreu agressões verbais durante uma motociata. A jovem recebeu insultos por simplesmente pensar diferente do determinado grupo. Após os acontecimentos, ela procurou ser discreta ao votar, pois o desrespeito dos manifestantes era algo que a preocupava.

Para Yane, toda essa violência eleitoral foi causada por um governo que diversas vezes fez discursos ofensivos a certos grupos da sociedade, ela acredita ainda, que esse governo é responsável por abrir portas para a normalização da intolerância”. As pessoas não estão dispostas a tolerar eleitores contrários a eles”.

Saúde mental no período eleitoral

A Organização Mundial de Saúde (OMS), expõe que 23 milhões de brasileiros, cerca de 12% da população, apresentam sintomas de transtornos mentais. E ainda, 5% da população apresenta transtornos mentais graves e persistentes. 

Neste período eleitoral, fomos bombardeados com muitas informações, desde notícias falsas, debates intensos e até discussões nas redes sociais. A nossa mente precisou organizar todos esses assuntos.

Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro em debate politico nas eleições de 2022.
Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro em debate politico nas eleições de 2022.
Foto: Mauro Pimentel/ AFP

Para a psicóloga Fernanda Paganini, quando não existe respeito pela escolha política de outra pessoa, porque não conseguimos entender que ela carrega uma experiência de vida diferente das nossas, estamos violando a sua subjetividade e também o seu psicológico.

“Acredito que a posição e a compreensão política, de maneira geral, é o resultado de um processo onde devem ser considerados os valores de cada indivíduo”, afirma a psicóloga.

Segundo ela, para a violência política não se tornar um problema psicológico, primeiro devemos compreender que cada pessoa carrega uma escolha e isso é reflexo de uma história, de uma visão do mundo. “Do ponto de vista psicológico, não existe certo e errado universal, existe o que é certo e errado para você”, completa Fernanda.

A história política do Brasil e o reflexo na atualidade

Quando falamos sobre o nosso passado político, percebemos uma história de muito ódio e rancor. A ditadura militar é a prova disso, durante anos não foi possível demonstrar nossas opiniões políticas, expressar as nossas vontades. Naquela época, vivíamos com medo, reclusão e acima de tudo, não éramos livres.

Estudante de medicina caindo no chão e sendo perseguido por policiais 1968, durante manifestação contra regime militar no Rio de Janeiro.
Estudante de medicina caindo no chão e sendo perseguido por policiais 1968, durante manifestação contra regime militar no Rio de Janeiro.
Foto: Evandro Teixeira

O mestre em Sociologia Política, Eduardo Guerini, explica que o passado do Brasil foi um passado de revoltas e rebeldias. Atualmente, o Brasil é um país permeado por violência de toda espécie, uma violência aos grupos excluídos e marginalizados pela sociedade.

De acordo com o sociólogo, o Brasil não vive com tranquilidade no estado democrático que estamos, pois existem grupos da sociedade que lutam contra qualquer tipo de avanço de outros grupos.

Para o professor, a violência política se inicia quando algumas narrativas traduzem um discurso de ódio, um discurso homofóbico, racista e marginalizador. Essas são as características de um governo de extrema direita, que busca acabar com uma suposta volta do comunismo.

O aumento da violência política tem um crescimento com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, quando a perseguição ao “inimigo” começou, ganhando cada vez mais aliados.

Segundo Eduardo Guerini, para que essa violência política não aconteça mais, é necessário iniciar um plano de distribuição e redistribuição de renda por plano econômico. É preciso investir em educação, mas em uma educação inclusiva e tolerante à diversidade.

Protesto realizado contra a ditadura militar que contou com a presença de mais de cem mil pessoas. 
Foto: Evandro Teixeira
Protesto realizado contra a ditadura militar que contou com a presença de mais de cem mil pessoas.
Foto: Evandro Teixeira

“Uma sociedade democrática,  e isso começa essencialmente por inclusão econômica, inclusão social, inclusão política e por uma educação que seja transformadora da realidade, não uma educação que seja formadora de mão de obra, como nós vemos hoje”, completa Eduardo Guerini.

Desta forma, como se toda essa violência política não fosse o suficiente, a democracia também está sofrendo ataques golpistas. Quando uma parcela da população pede por uma intervenção militar, fere tudo aquilo que durante anos nós lutamos para conquistar. Pedir por um golpe, é trazer à tona um passado doloroso e difícil de esquecer, e ainda colocar em questão qual será o futuro da nossa nação.

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