Pandemia demonstra a boa liderança feminina na política

O Brasil ocupa o 154º lugar entre 193 países em um ranking elaborado pelo Inter-Parliamentary Union sobre mulheres na política

A pandemia do Covid-19 revelou mais sobre as pessoas, principalmente como modelos políticos podem influenciar na gestão de uma crise. Líderes mais conservadores, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, enfrentam sérios problemas e críticas na condução da pandemia. Já outros modelos modelos ensinam como o planejamento pode ser importante para enfrentara doença. É o caso de governos liderados por mulheres, como a Nova Zelândia, Finlândia e Alemanha. Esses exemplos mostraram como a liderança de uma mulher pode ser fundamental na resolução de crises.

Em uma pesquisa da União Parlamentar de 2018, constatou-se que apenas 10 de 153 chefes de estado são mulheres. Não é necessário ir muito longe para perceber como as mulheres são minoria na política. Juliethe Nitz é advogada e a única representante feminina na Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú. Ela descobriu sua vocação na política ao trabalhar com assistência social na igreja. Com isso, começou a auxiliar o Núcleo Assistencial Humberto Campos (NAHC), que trabalha com crianças e adolescentes envolvidas com drogas e famílias em risco. Ao se tornar presidente ONG, ela percebeu todos os problemas enfrentados pelas instituições sociais. Com o fim do trabalho, Juliethe sentiu mais vontade de ajudar e resolveu entrar na política.

Juliethe em uma sessão ordinária de Câmara de Balneário Camboríu | Foto: Arquivo da vereadora

A primeira candidatura de Juliethe foi como deputada federal. Logo após, resolveu se candidatar à vereadora e começou no cargo em 2017. “Para mim é um orgulho fazer parte de um espaço tão importante e representar a população de Balneário Camboriú”, conta. Sobre ser a única mulher na câmara, ela reconhece a dificuldade de ser minoria.

Sofia Knoll, analista de pesquisa de mercado e pós-graduanda em Relações Internacionais Contemporâneas pela Univali, não avalia a liderança a partir do feminino e do masculino, mas pela socialização. “Quando crianças, fomos ensinadas que um dos nossos papéis na sociedade é o cuidado. É mais comum entre as mulheres a liderança que tenha essa característica de orientação para pessoas, o que costumamos chamar de cuidado maternal”, explica.

Juliethe, em sua experiência, ressalta a visão sensível da mulher. Ela acredita que a vivência é importante na hora dos projetos, pois é dessa forma que é colocado em pauta. Além disso, ela cita a superação feminina como algo corriqueiro em qualquer ambiente.

Sanna Marin é primeira ministra da Finlândia e a mais nova da história de seu país |Foto: Vesa Moilanen / Lehtikuva / AFP / CP

As mulheres são minoria devido a uma construção política relacionada à força e bravura como um atributo político fundamental. Sofia explica que a valorização da masculinidade cria esteriótipos de homens que não demonstram quem realmente são. É a chamada masculinidade tóxica, como é popularmente conhecida. Na visão da internacionalista, é uma característica comum dos líderes mundiais que falham no combate ao Covid-19. “Líderes como Jair Bolsonaro e Donald Trump continuam minimizando os riscos do vírus do Covid-19 e quase não tomam decisões estratégicas para a proteção da população, mesmo com o alto número de infectados e mortos em ambos países.”

Nesse sentido, entra a representatividade feminina. Angela Merkel, por exemplo, é uma líder que governa com base na ciência. A “Merkelmania” é muito respeitada na Europa, já que é um modelo pautado em fatos. A chanceler fala diretamente com a população, trazendo mais confiança em seu trabalho, que rompeu o conservadorismo do partido e trouxe pautas sociais e ambientais ao longo dos anos. Jacinda Ardern, na Nova Zelândia, é uma líder que traz a renovação política. Seu trabalho é relacionado a causas sociais, com uma comunicação empática por meio da internet. Diferente de alguns chefes de estado, Jacinda Ardern e Angela Merkel lidam com pulso firme quando o assunto é a pandemia.

Merkel foi apelidada de “mutti”, que significa mãe. Ela é conhecida por ser disciplinadora. Foto: Clemens Bilan – EPA

Sofia conta que um governo mais diverso pode fazer com que as políticas desenvolvidas sejam benéficas para toda a população, não apenas uma parcela. “Em momentos de crise como o que vivemos hoje, a desigualdade é agravada e fere desproporcionalmente os mais vulneráveis”, explica.

Juliethe acredita que as mulheres devem ter mais espaço não só na política, mas em outros espaços também. A Câmara de Deputados lançou dados em 2019 sobre a baixa representatividade feminina na política. Dos 513 deputados, apenas 77 são mulheres. A vereadora explica que as leis são feitas a partir de experiências da população, o que contribui para uma melhora geral. Com mais mulheres representando a população, o desenvolvimento da legislação terá mais igualdade em seus direitos.

O caminho ainda é longo para as mulheres terem mais voz na política. Sofia cita que questionar os papéis exercidos pelas mulheres é fundamental. “Esse esforço de mudar uma visão de mundo tão antiga e profundamente enraizada na sociedade é contínuo, pois as instituições em sua maioria são fundamentadas em uma estrutura patriarcal”. Já Juliethe explica que fazer política não é só através do ambiente público. Conversar, expressar opiniões e entender o ponto de outra pessoa faz parte desse processo. “Isso é fazer política, por isso é essencial termos a representatividade feminina na área pública para que a nossa voz seja mais ativa e eficaz”, finaliza a vereadora.

Vereadora Juliethe em reunião com o Deputado Marcius Machado | Foto: Arquivo da Vereadora

Aos poucos a realidade pode mudar. No Brasil, há uma lei que garante às mulheres 30% das vagas de candidatura nos partidos. A Lei nº 9.504/1997 teve seu texto atualizado em 2009, já que antes falava apenas a reserva de vagas . Apesar do patriarcado ainda ser vigente, cada vez mais mulheres adentram no mundo da política e conquistam um lugar que sempre devia ter sido seu.

Foto em destaque: Bianca De Marchi / EFE – EPA – Arquivo

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