Professores apontam a organização de tempo e espaço como uma das formas de enfrentar os novos tempos para a educação
Com a pandemia do COVID-19, as salas de aula foram substituídas pelas virtuais. Segundo a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), 191 países estão com escolas e universidades fechadas. Com isso, os profissionais da educação precisaram encontrar medidas para que os alunos pudessem estudar e manter uma rotina de aprendizado. Com as crianças, a adaptação foi um pouco maior.
O maior desafio para os educadores é a chamada transposição didática, que é levar toda a ação docente, a prática e as atividades do presencial para o ambiente virtual. A professora Maria Fernanda d’Ávila, do curso de Pedagogia da Univali, fala que, para toda a adaptação das aulas, são exigidas habilidades e uma formação prévia dos professores e experiência com os conteúdos no formato digital. As ferramentas e o tempo que o professor teria na sala de aula são diferentes no ambiente virtual, o que desafia o mestre a criar novas abordagens. “É valoroso o empenho, o trabalho e a dedicação dos professores nesse momento, toda a prática pedagógica com intenção educativa, com propósito e conteúdo”, explica a professora.
A adaptação é positiva para algumas crianças. Lucila Hornell, que é mãe de Marcelo, de 11 anos, diz que o filho está indo bem bem nas aulas virtuais. Ela conta que Marcelo tem acompanhado o conteúdo tranquilamente. Para Maria Fernanda, o professor tem o papel de auxiliar as famílias também. Os pais, em geral, não possuem formação pedagógica e precisam orientar os filhos no ensino em casa. “Cabe às escolas criar uma estratégia para orientar as famílias na importância do envolvimento efetivo no acompanhamento do aprendizado dos alunos”, explica Maria Fernanda. Não é apenas o auxílio com as tecnologias, mas a ajuda na criação de um espaço e no aproveitamento do tempo para que o estudo seja, de fato, eficiente. Sobre essa adaptação, Lucila diz que o maior desafio é o foco. “É difícil manter o foco sem ficar prestando atenção no que acontece ao redor. Ele faz as aulas com fone de ouvido e no quarto, em silêncio”.
O professor de Ciências Rômulo Rauen precisou adaptar suas aulas para atender às necessidades e dúvidas de seus alunos mais novos. A modernidade digital já faz parte do âmbito da educação para as novas gerações, mas isso não significou que o trabalho ficaria mais fácil. “A adaptação online teve alguns ajustes de tecnologia básica, como internet lenta, plataformas digitais com restrições na quantidade de usuários, alunos sem acesso à Internet e manuseio da mesma”, conta o professor.

Apesar de todo o esforço dos professores, o esgotamento emocional é um dos fatores que prejudica o trabalho pedagógico durante a quarentena. Os mestres, além de terem a função de ajudar os alunos, precisam lidar com a rotina doméstica, em um ambiente diferente da sala de aula e que pode atrapalhar. O Instituto Península ouviu cerca de 2.400 profissionais da educação no Brasil e percebeu que 90% dos professores precisaram mudar a rotina e a vida para se adaptarem ao novo período. A pesquisa notou que os mestres estão angustiados e, segundo a professora Maria Fernanda, a respeito da pesquisa, há uma preocupação psicológica com a classe.
Maria Fernanda ainda cita que a situação não é fácil para ninguém, nem alunos ou professores. A ampliação da comunicação entre mestres e
alunos é fundamental para facilitar o momento, além de estreitar laços com as famílias. Conversar com elas e com as escolas é a dica da professora. Já Rômulo está com grandes expectativas para voltar à sala de aula. “Nada substitui um abraço, conversar olho no olho e as dinâmicas e trabalhos dentro da sala de aula. Nada substitui uma aula presencial, apesar de achar que o ensino online é um recurso de apoio metodológico e pedagógico.”
A professora Maria Fernanda ainda cita como fundamental buscar a comunicação e ampliá-la neste momento. Mobilizar as escolas para disponibilizar livros e material impresso é uma das formas para continuar movendo a educação no país, já que muitas famílias não têm acesso à tecnologia. Isso tornaria a situação mais igual e diminuiria os desafios do ensino no país.
Para um estudo de qualidade e que garanta o aprendizado, a professora Maria Fernanda dá as dicas. A organização de um espaço e tempo para o estudo são fundamentais para um bom rendimento. O silêncio é importante para a concentração, ainda levando em conta a faixa-etária de quem está estudando. Cada nível precisa ter seu momento dedicado ao estudo de acordo com a idade e também adequado à rotina familiar. “Muitas vezes, o espaço de estudo é usado pela família, que também estuda e precisa desse espaço em casa”. Além disso, uma boa estrutura emocional é necessária para lidar com essa nova rotina exigida.
