O papel da educação sexual na vida dos jovens

Como educar para o sexo pode interferir na diminuição de IST’s e gravidez precoce, além de evitar abusos sexuais
A educação sexual vem sendo bastante discutida atualmente. De um lado, pessoas que acreditam no debate e ensino sobre o corpo. Do outro, a iniciativa ainda é um tabu. Mas por que um tema tão importante ainda vem encontrando barreiras para ser compreendido e apoiado pela sociedade como um todo? Primeiro, é preciso compreender o que é educação sexual.
De acordo com a professora de ciências Edmara Guimarães Barboza, 32, é responder as dúvidas da criança e do jovem com clareza para que possam entender sobre o corpo deles e as formas de prevenção, entendendo que as mudanças hormonais que eles estão sofrendo são normais, sem medo ou vergonha.
“Desde cedo, a criança precisa ser instruída sobre seu corpo, sobre higiene pessoal e também sobre abuso sexual”, afirma Edmara. A educação sexual é uma porta para que a criança entenda que a parte íntima dela é um lugar onde ninguém pode tocar sem ser de forma higiênica e que, caso ela se sinta incomodada ou intimidada, deve pedir ajuda a um adulto. De acordo com a professora, esse é o melhor caminho para evitar o abuso sexual precoce.
A ação de informar pode ser algo em conjunto, em que famílias, escolas e agentes da saúde se unem para conscientizar as crianças e jovens. A escola também deve participar da propagação dessas informações, afinal, na escola há profissionais formados com informações de qualidade. “Falta conhecimento científico. Nem sempre os pais sabem, por exemplo, informar quais remédios podem cortar o efeito do anticoncepcional, como antibióticos ou antidepressivos, e isso resulta na gravidez precoce”, afirma Edmara sobre a cooperação de escola e família sobre a educação sexual.
Em 2018, foi possível perceber, através de dados da Organização Mundial da Saúde – OMS, os alarmantes casos resultantes das relações sexuais sem preservativos. A cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram grávidas e tiveram seus bebês, colocando o Brasil acima da média latino-americana, estimada em 65,5. Conforme os dados do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2018, em apenas 10 anos, o aumento de contaminação pelo vírus HIV foi de 700% entre o público de 15 a 24 anos.
Esses números vêm crescendo e assustam cada vez mais. Mas por quais motivos têm aumentado essas estatísticas quando há preservativos distribuídos pelo governo? A enfermeira Sandra Guimarães de Menezes, 41, acredita que há vergonha da parte dos jovens e medo de que a distribuição gratuita comprometa a qualidade do produto. “O uso de drogas e álcool também leva a negligência do autocuidado” , afirma Sandra.
O papel da educação sexual nas escolas é fazer o jovem entender que ele não é imune a infecções sexuais e tirar esse mito de que gente bonita e cheirosa não infecta, além de orientá-lo no processo de autoconhecimento e interesse na procura de testes de HIV, sífilis e hepatite B e C. “O primeiro pensamento humano é de executar a relação sexual. Pensando na conquista, o jovem não dá a devida importância ao preservativo”, afirma Tânia Crescênio, 59, que trabalha no Centro de Direitos Humanos.
A OMS diz que “a sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida”. Por isso, é preciso desconstruir a ideia de que os jovens são iguais e entender a naturalidade desse assunto, pois ele vai além de sexo e abrange corpo, história, costumes, relações afetivas, entre outras coisas.
“É importante que os pais entendam que conversar sobre isso não estimula a prática e sim conscientiza, previne e protege”, afirma a psicóloga Marleide Zomer Marcon, 45. A profissional ainda comenta que responder as dúvidas de forma natural e abrir espaço de confiança facilita na formação de um adulto melhor resolvido em relação a sua sexualidade
Os professores e a escola buscam apoio e abertura para instruírem seus alunos, conscientizando e promovendo a saúde quando a criança e o jovem não tem essa ajuda de casa. “A escola não é vilã, ela é parceira”, conclui a professora Edmara Guimarães.