A família e a construção de identidade de gênero

Dificuldades dos pais em aceitar a orientação sexual dos filhos pode afetá-los na hora de se assumir

Todo mundo nasce com uma genital que determina o sexo biológico e, enquanto crescemos, podemos nos reconhecer ou não dentro dos padrões de homem ou mulher. Os termos identidade de gênero e orientação sexual vêm ganhando força para serem discutidos e, aos poucos, as pessoas têm cada vez mais liberdade para serem quem são.

Conforme o psicólogo William Fiuza, identidade de gênero refere-se a como uma pessoa se identifica e orientação sexual indica por quais gêneros ela se sente atraída. “É bom ressaltar que não é uma opção sexual, pois ela não escolhe e sim nasce com aquela orientação”, comenta Will.

Julia Campigotto tem 19 anos, é estudante de Design na Univille, faz excursão nas horas vagas e assumiu a sua orientação sexual aos 16 anos. No processo de compreender e aceitar quem era, Julia lembra muito bem de uma frase que seu pai disse para ela: “se você quer ser lésbica, que seja da porta de casa para dentro”.

“O fato de meu pai não deixar ser quem eu era, criou um bloqueio em mim. Me tornei muito mais fechada às pessoas, porque se eu não podia ter amigos para me abrir e ser sincera com eles sobre minha orientação, preferi não ter mais amigos”, comenta.

No começo, sua mãe não aceitou muito bem, mas hoje em dia as duas têm uma boa relação. “Quando você tem seus pais do lado você pode enfrentar qualquer coisa que nada vai te afetar. Se eu tivesse apoio dos meus pais desde o início, talvez eu tivesse lidado com a situação de uma maneira muito melhor e mais leve”, acredita Julia.

O estudante de Biomedicina Alexsandro Siqueira tem 21 anos e é homossexual assumido desde os 12. No começo, a relação com a mãe foi muito conturbada. “A minha mãe sempre preferiu não tocar no assunto e fingir que seu filho não era gay”, comenta Alex. Por muito tempo, ele não podia levar amigos em casa por preconceito da mãe, pois tinham jeito afeminado.

“Hoje em dia, eu tenho o apoio dela, mas muitos familiares ainda não sabem da minha sexualidade. Isso fez com que eu me afastasse de muitos deles”, diz Alex. E mesmo tendo um relacionamento bom com sua mãe sobre sua orientação, o estudante comenta que não se vê apresentando algum namorado para a família. “Eu não tenho medo de ser quem eu sou, eu tenho medo do que as pessoas podem fazer comigo por ser quem eu sou”, conclui Alex.

É na infância que as pessoas mais descobrem sobre si mesmas, quando ocorrem importantes explorações para que elas entendam sobre sexualidade e construam a sua identidade. Nesse período, o diálogo com a família é essencial para que a criança entenda a naturalidade das mudanças e diminua o medo e o sofrimento de passar por toda esta descoberta sozinha, explica o psicólogo William Fiuza.

A homossexualidade, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia, não é uma doença, distúrbio e nem perversão. Conforme uma pesquisa realizada em sete países da América Latina, 73% dos estudantes do ensino básico sofreram algum tipo de bullying homofóbico. Outra pesquisa feita pela University College Cork mostrou que 40% dos homossexuais entrevistados já pensaram, planejaram ou até mesmo tentaram dar fim a própria vida por conta da sua sexualidade.

Os pais podem ter certo medo da realidade que o homossexual passa, mas devem lembrar que o apoio deles torna a realidade do filho muito melhor. “Quando a própria pessoa não aceita quem ela é torna as coisas muito doloridas e saber que os pais estão ao lado independentemente da orientação sexual pode mudar até mesmo a forma que ela se enxerga”, conclui Will.

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