“Não vejo nada além deles”: o ato de amor que transformou vidas

Desde jovem, Jane Cacheski já tinha a ideia fixa de que não queria ter filhos. Quando conheceu seu esposo Valdir, ele também não queria ter filhos. Porém, o amor das crianças transformou o coração dos dois e mudou suas vidas.

Com o passar dos anos do casamento, a adoção entrou na vida deles e ambos toparam. Eles tinham uma vida corrida de trabalho e faculdade. Por causa disso, a adoção foi a escolha feita.

“Quando a gente fez o processo no Fórum, em 2010, a gente entendeu que teria um ou dois. Meu sonho sempre foi ter três. Durante o processo, vi que não fazia sentido adotar apenas um”, conta.

Jane conta que antes de passar pelo processo, já tinha ouvido de muitas pessoas que é um meio muito mal cuidado. Ela diz que quem está no abrigo não tem ninguém além do juiz e do assistente social. E quem vai para adotar, não possui um cadastro feito, uma “ficha limpa”, pode ser qualquer pessoa.

“O processo de adoção envolve muita ansiedade por ser um “ato nobre”. Acho que nas quatro semanas do processo, é muito importante ser sincero, pois é nesse período que a assistente social irá conhecer de você”, diz.

Decisão

Depois de muitas conversas, Jane e Valdir decidiram adotar duas crianças. Os dois se formaram na faculdade, e então foram ao Fórum para continuar o processo.

Foi neste momento em que, chegando no Fórum, Jane foi notificada que seu processo havia se perdido entre os arquivos. “Fui um momento de tristeza”.

Quatro meses depois, quando Jane estava no trabalho, ela recebeu uma ligação dizendo que três crianças poderiam ser adotadas. Ela conta que falou aos colegas de trabalho que poderia ser mãe e o andar inteiro parou para decidir se ela seria mãe ou não.

“Tinha um menino meio doidinho que disse “Ai Jane, tu não pode ficar aqui, não! Isso não é coisa que se decide trabalhando, vai lá!”. E eu fui. Quando saí da empresa que caiu a ficha que eu seria mãe. Chorei o tempo todo até chegar no Fórum”, conta. 

Arquivo Pessoal

Processo

Novamente, eles abriram outro processo para adoção. Desta vez, estavam decididos que seriam pais de três crianças.

Nesse tempo, outra família, que estava com o processo mais adiantado, conseguiu adotar os três. Jana conta que ficou muito triste. “Em uma hora eu tinha três filhos, e na outra não tinha ninguém”.

O casal conversou com o juiz e foi decidido que por causa da data do processo de adoção de Jana ser mais antiga, ela conseguiu adotar as crianças. “Recebemos a notícia na quinta-feira. Então, não dormimos na quinta, não comemos na sexta, e sábado fomos para Araranguá (Sul de Santa Catarina), que é a cidade onde eles estavam”.

Quando eles chegaram no abrigo, conheceram as crianças. Laura, tinha 4 anos, Davi, 2, e Maysa, 1. Jana conta que quando eles se conheceram foi igual à cena de filme. “Eles entraram pela porta bem tímidos, se escondendo da gente. Nós combinamos que eles não deveriam nos chamar de país, pois poderia ser que o processo desse errado”.

Jane, Valdir e as três crianças passaram o fim de semana em um hotel próximo ao abrigo para se conhecerem melhor. A experiência seria avaliada por um assistente social do Fórum, que decidiria se eles eram capazes de serem pais.

“Fomos almoçar em um restaurante, e a assistente social responsável pelo caso estava almoçando lá. E, sem a pressão de mostrar algo falso, na pressão de sermos aprovados, ela nos avaliou da melhor forma”, diz.

O combinado era que segunda-feira o casal iria deixar as crianças no abrigo e voltar para casa. Mas o que aconteceu foi que o amor e o carinho das três crianças entrou nos corações de Jana e Valdir e nunca mais saiu.

“Aquele casal forte que chegou lá com a cara a tapa, sem medo de dar errado, tinha sumido. Saímos de lá com toda a documentação pronta”.

Arquivo Pessoal

Razão e emoção

Jana conta que no processo a pessoa fica muito emotiva. “Tínhamos reunião toda quarta-feira à tarde”. No meio de um turbilhão de emoções, Jana diz que a melhor dica é se manter tranquilo.

“Às vezes eu não conseguia nem ligar o carro de tão nervosa. Ficava com medo de chegar atrasada e ele [assistente social] já ver que eu não tinha responsabilidade suficiente para adotar. Quem viver esse processo, viva com razão”.

Ela conta que depois que se tornou mãe, saiu da zona de conforto, e toda a vida dele se direcionou para as crianças. “Sempre me cobrei muito na educação deles. Tem que pôr a cabeça no lugar e seguir com a vida”.

“Vai dar ruim? Vai. Mas vai dar tão bom, que o ruim é só um detalhe. Então boa sorte para quem quer adotar”.

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