Na era de Cristo, não sabemos amar
Às vezes, fico tão revoltada com o que vejo do ser humano – como nessa situação, em que um músico que ia para um chá de bebe com sua família acabou morto – que quero escrever, dissertar, gritar para as pessoas o quanto isso é errado, o quanto isso não é normal. Não dá para normalizar uma situação dessas. Mas, junto com esse sentimento, vem um cansaço, uma sensação de gritar para o vento, de saber que, apesar de todos os dados, estatísticas e, principalmente, das lições de humanidade e empatia, ainda vai ter gente que vai defender. O problema é que não é um, ou dois, são muitos.
São muitos que defendem essa barbárie, de um homem morto com oitenta tiros, você ouviu bem, oitenta tiros, enquanto ele não fazia nada de errado. Não preciso, e nem quero, entrar no âmbito de que, mesmo que ele fosse um bandido, aquilo não seria normal. Querem ser gélidos? Sejamos gélidos. Sabem a quantidade de dinheiro desperdiçado em oitenta munições? Mesmo que aquele homem fosse bandido. Mas vamos ser seres humanos, porque a frieza deixo com vocês. Existia uma criança de sete anos, que com bandido pai ou não, não tinha culpa de nada. Vocês não são fervorosamente contra o aborto?
Eles podiam ter atirado no pneu. Podiam, mas não o fizeram. Atiraram para matar e com uma raiva assustadora. Vocês têm noção do rombo psicológico enorme que esses homens devem ter? Vocês já pensaram em estar andando na rua e encontrar um desses homens e ele confundir seu celular, seu guarda-chuva, com uma arma? Confundir sua vida com algo fútil?
Pois foi isso que aconteceu, e acontece frequentemente no nosso país. Vidas tiradas ao acaso, que pouco importam para o governo e para a sociedade. As notícias estão aí para provar. Espero que não tenhamos nos tornado tão duros a ponto de não raciocinar, porque sim, entendo que com a era da informação somos bombardeados com tantas notícias ruins, que muitas vezes não paramos para pensar no assunto. Mas, por um segundo, caro leitor, peço que pense, porque sua realidade pode não ser essa, mas a de muitos brasileiros é.
Permitir que desequilibrados sem amparo psicológico e emocional nos defendam é pedir para uma catástrofe. Afinal, sempre a desculpa é que era bandido e merecia, mas ele não era… e mesmo assim vocês fecham os olhos. Tinha que ser alguém rico ou famoso para ter protestos? Tinha que ser um famoso negro para vocês, que banalizam o racismo, apontarem a história como ato racista?
A hipocrisia pode atingir níveis inimagináveis. Mas fazer o que, se os brasileiros, nessa era Bolsonaro, além de serem cruéis, estão se tornando burros. Mas, apesar de tudo, o país está bem. Na segunda-feira, logo após essa tragédia “superficial”, o Twitter tinha como uma das hashtags mais usadas uma de apoio ao Bolsonaro. Pois, como o nosso presidente pode ter culpa do que os outros fazem? Vocês perguntam. Óbvio que vocês perguntam, não me digno nem mais a explicar, porque saber ler é uma dádiva, saber interpretar é ainda melhor.
Espero que esse texto ajude. No fundo, espero que ajude os outros, pois é isso que amo fazer. Mas, como disse acima, o cansaço bate e talvez eu saiba que só estou ajudando a mim ao desabafar. Se em 2000 anos depois de Cristo, de filosofias e arte vocês ainda não aprenderam a amar e a pensar, quem sou eu para achar que um mero texto faça a diferença…