Filhos competem com celulares por atenção dos pais

Muito se discute sobre o uso das novas tecnologias pelas crianças. Mas o que será que elas têm a dizer sobre o uso exagerado dos dispositivos pelos seus pais?

As crianças estão intimamente sintonizadas com a atenção de seus pais. Elas dependem dessa atenção para sua sobrevivência, é claro, mas também para seu desenvolvimento social e emocional. Vários estudos recentes mostram o dano que os pais podem causar quando estão fisicamente presentes, mas distraídos e menos responsivos por mexerem em seus celulares.

Um estudo internacional da companhia AVG envolveu seis mil crianças de oito a treze anos para falar sobre o tema e descobriu que 32% delas sentem-se “sem importância” enquanto os pais usam o celular durante as refeições, conversas ou outros momentos da família. As crianças afirmaram competir com a tecnologia pela atenção de seus pais. Mais da metade das crianças no estudo disse que seus pais passam muito tempo em seus telefones.

Pensando no tema, o fotógrafo americano Erick Pickersgill criou um projeto intitulado “Removed” em que fotografa pessoas em situações cotidianas mexendo em seus celulares. O diferencial é que os aparelhos foram removidos, o que faz o público refletir sobre o assunto. “Esse membro fantasma é usado como uma maneira de mostrar ocupação e falta de disponibilidade. Ele é uma força viciante que divide a atenção entre pessoas que estão fisicamente com você e aquelas que não estão”, comenta o fotógrafo na descrição da sua galeria virtual.

Galeria virtual www.removed.social | Foto: Erick Pickersgill

Enquanto os pais entram em pânico sobre como desviar o vício de seus filhos em aparelhos digitais, as crianças começam uma contra-revolução e insistem que seus pais controlem suas próprias obsessões tecnológicas. Um caso como este é o de Emil Rustige, um menino alemão de sete anos que se deparou com a mesma situação e decidiu agir para combater o uso exagerado dos aparelhos pelos pais, não só os dele, mas os do mundo inteiro.

Ele teve a ideia de organizar uma manifestação nas ruas de Hamburgo e foi apoiado por muitas pessoas. “Estamos aqui e somos barulhentos porque vocês só olham pro celular! Eu desejo que depois desse protesto muitas pessoas fiquem atentas para não mexerem mais tanto para seus celulares”, disse Emil durante o movimento que envolveu aproximadamente 150 crianças e suas famílias.

Na imagem, o menino Emil lidera o protesto | Imagem: faz.net

Claramente, é provável que os pais se percam nas mídias sociais porque tudo é muito novo para eles. Enquanto isso, os jovens já parecem demonstrar alguns sinais de fadiga nas redes sociais em geral. Ensinar os pais a utilizarem essas novas tecnologias também tem se tornado tedioso para eles por terem que explicar do zero. “No começo, eu curtia ensinar a minha mãe a usar o celular por estar inserindo ela em um ‘mundo novo’ e com isso ela poder ficar mais atualizada. Mas, com o tempo, eu ficava irritada por ter que repetir diversas vezes como fazer as coisas”, afirma Joice da Motta, 19, estudante de Letras da Univali.

Joice também se julga culpada pelo fato de a mãe passar muito tempo utilizando o celular. “A maior parte do meu tempo livre eu mexia no celular e, involuntariamente, minha mãe também mexia no dela. Então, isso virou um ciclo em que a gente passava nosso tempo uma do lado da outra mas cada uma em seu mundo virtual”, aponta.

O que a ciência diz sobre o assunto

De acordo com o psicólogo Alan Müller, o uso demasiado de smartphones pelos pais pode desencadear diversos sintomas negativos nos filhos. A falta de atenção com os eles pode gerar falta de empatia na criança, uma vez que ela está crescendo e desenvolvendo suas habilidades sociais. Se não houver esse treinamento por parte dos pais, é provável que ela terá problemas sociais no futuro. Outro ponto negativo é que os pais modelam o comportamento de seus filhos, então estariam mostrando a eles que o ideal é estar sempre em frente a uma tela.  

Falta de atenção pode gerar falta de empatia nas crianças | Fonte: Freepik

O psicólogo também lembra que não se pode generalizar e cada caso difere entre si. A solução para o problema seria os pais fazerem uma reflexão sobre seus atos ruins e mudá-los. “É preciso haver uma reeducação nos hábitos familiares. Se não há possibilidade de os pais fazerem isso sozinhos, é indicado que procurem um profissional para fazerem algumas técnicas de modelagem de comportamento”, pontua Alan.

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