Dialeto badense une Guabiruba às suas origens alemãs

Situada no Vale do Itajaí, cidade colonizada por povos germânicos mantém vivas as tradições até os dias atuais

Colonizada por imigrantes alemães e italianos em meados do século 19, Guabiruba era um bairro de Brusque que, em 1962, se emancipou e virou um município distinto. A cidade possui duas teorias sobre a criação do nome. A primeira teoria é de que o nome foi originado dos índios que viviam pela região: um índio da tribo teria erguido um peixe e gritado “guabirupé”. Outra teoria afirma que o nome deriva de uma árvore, predominante no local onde se situa o município, cujo nome é guabiroba.

Centro de Guabiruba – data desconhecida | Foto: Arquivo/Prefeitura

Devido à crise em meados de 1800, os europeus buscavam por melhores condições de vida. Surgiu, então, a possibilidade de imigrar para a América do Sul. Povos de países como a Alemanha, Itália, Áustria e Polônia se estabeleceram, principalmente, na região hoje conhecida como Vale do Itajaí. Eles se dedicaram à extração de madeira e à lavoura para a construção de suas moradias e o consumo de seus próprios alimentos, visto que no local não havia estabelecimentos comerciais.

Tecelagem Wippel, centro de Guabiruba | Foto: Arquivo/Prefeitura

Seu esforço e empreendedorismo esculpiram uma cidade próspera. Muitos imigrantes trouxeram sua profissão de origem que, aos poucos, foi sendo exercida à medida que a localidade se desenvolvia. Na década de 70, depois dos primeiros empreendimentos, buscou-se a modernização para uma cidade industrial, com empresas de malhas, confecções, tinturarias e metalúrgicas, que hoje tornam o município conhecido como “Terra do tecelão”.

O desenvolvimento atraiu novas famílias que escolheram Guabiruba para construir uma vida nova. Atualmente, a cidade dispõe de migrantes de vários estados do país, integrando as mais diversas culturas. Porém, pode-se perceber que as culturas italiana e alemã ainda são fortemente vivenciadas. A pequena Fátima, de sete anos, aprendeu a língua alemã desde pequena. Sua mãe Marilse Kohler acredita ser muito importante manter a língua pela questão cultural. “Quis ensinar o alemão para ela por causa da cultura. Aqui nós temos como origem o alemão, então é bom ela entender e vivenciar”. Quando Fátima ingressou no pré-escolar, teve maior contato com a língua portuguesa, o que a fez falar menos o outro idioma.

O mesmo aconteceu com seu avô Paulo Kohler, de 79 anos. Como sua família é descendente alemã, todos falavam somente a língua germânica. Na década de 50, Paulo começou sua vida escolar e foi proibido de falar alemão. “Para mim, foi muito ruim a época da escola porque a gente só podia falar português. Foi bem difícil aprender porque ninguém sabia, todo mundo só conhecia o alemão”. Marilse diz que sua época de escola era ainda mais complicada por ser a época da ditadura militar. “Quem falava alemão era expulso”.

As gerações da família Kohler: Paulo, Fátima e Marilse | Foto: Gabrieli Kohler

Hoje a mesma escola em que pai e filha estudaram é também a instituição de ensino da neta. A Escola Municipal Padre Germano Brandt, que tem 151 anos, agora possui em sua grade curricular o ensino da língua alemã. A diretora Fernanda Krempel Popper considera o idioma como a segunda língua de Guabiruba. “Optamos pelo ensino da língua alemã por estarmos em uma localidade onde muitos ainda falam esse idioma e com isso queremos mantê-la viva”. Além desta, outras três escolas do município também possuem aulas de alemão.

Turma do 1º ano da Escola PBG | Foto: Gabrieli Kohler
Escola Pe. Germano Brandt | Foto: Arquivo/Prefeitura

Alemanha ao vivo e à cores

Por conta da colonização, a administração busca manter o vínculo amigável com o distrito de Karlsruhe, na Alemanha. Para isso, é realizado, desde 2014, o Intercâmbio Cultural Brasil x Alemanha, que leva estudantes adolescentes de Guabiruba ao distrito a fim de conhecer de perto a cultura imigrante e estreitar os laços afetivos.

Assim como os guabirubenses foram recebidos pelas famílias da Alemanha, eles também são os anfitriões na vinda dos alemães para o Brasil. Em uma conversa com a intercambista alemã Laura Mohr, ela afirma gostar muito do ambiente da cidade, que apesar de ser integrada com outras culturas, ainda possui muitas características alemãs. “Eu posso observar muitas casas enxaimel no mesmo estilo da Alemanha, além do dialeto badense, que é o alemão antigo e que só pessoas como meus avós ainda falam, mas é compreensível. E isso é legal, porque a cultura aqui ainda é muito preservada”, avalia.

Intercambistas alemães de 2019 e seus anfitriões em Guabiruba | Foto: Letícia Cardoso

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