Estudos do Fundo Mundial para a Natureza apontam que o Brasil produz anualmente 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico e apenas 145 mil toneladas são recicladas
Quando Nicole Berndt e seu marido, Paulo, perceberam que o futuro dos seus filhos estava comprometido e em risco, começaram a pesquisar por medidas sustentáveis e encontraram o movimento Lixo Zero. Quanto mais pesquisavam, menos conteúdo em português eles achavam. Então, em 2016, surgiu a Casa sem Lixo. O blog e a conta no Instagram, que possuí 140 mil seguidores, são os meios em que passam dicas e informações de materiais que substituem ou diminuem o consumo de plástico, itens descartáveis e lixo para pessoas que têm interesse e querem se integrar nesse estilo de vida.
O plástico, segundo a ONU, é o maior desafio ambiental do século XXI. Estudos do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) apontam que o Brasil produz anualmente 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico. Cada brasileiro produz por semana 1kg desse lixo e, somente 145 mil toneladas são recicladas. Isso torna o país o 4° maior produtor de lixo plástico no mundo, ficando atrás dos Estados Unidos, China e Índia.
Grande parte dos produtos consumidos possuem plástico em sua embalagem ou em sua composição. Canudos, garrafas pet, copos descartáveis, sacolas e outros tipos de lixo quando descartados de maneira incorreta acabam nos oceanos. Algumas pessoas preocupadas com o impacto que esse lixo está causando no planeta iniciaram medidas que reduzem ou substituem o uso do plástico de forma responsável e sustentável. Como é o caso da Nicole, fundadora do projeto Casa sem Lixo.
Transição
As pessoas que optam por seguir um estilo de vida com menos plástico têm como consequência imediata o ótimo bem-estar, já que contribuem e ajudam o planeta. “Quando a gente recusa itens de plástico, estamos recusando investir numa indústria que é tão poluente”, afirma Nicole. Para a oceanógrafa Katia Kuroshima, os resultados também são positivos e instantâneos. “Perceber que o meio ambiente e todo o seu entorno também faz parte de sua casa e, portanto, é sua responsabilidade de cuidar, já é o primeiro passo”, aponta.
Mas então qual seria o primeiro passo? Bom, não há uma regra ou algo que especifique o que deve ser mudado primeiro. Katia e Nicole concordam que o passo inicial é substituir os itens mais fáceis e simples da rotina que a pessoa leva. A criadora do Casa sem Lixo aponta que a escolha dos objetos a serem mudados é algo pessoal. Ela exemplifica com o esmalte, um dos produtos que tem plástico na sua composição, que para algumas pessoas é difícil não usar e para outras nem tanto. A oceanógrafa também fala sobre priorizar a substituição dos objetos de uso único, pois eles impactam mais o ambiente e gastam mais energia em sua decomposição.
Nicole Berndt
Quando a gente recusa itens de plástico, estamos recusando investir numa indústria que é tão poluente
Nicole frisa que o problema não está apenas no uso excessivo do plástico, mas também em tudo que foi feito para ser utilizado apenas uma vez. Canudinhos de plástico podem ser substituídos pelos de inox, copos, pratos e talheres descartáveis podem ser mudados pelos de bambu. Atitudes como essas evitam o manuseio de materiais que são descartados após o uso de poucos minutos. “O nosso planeta não é descartável e já entendemos isso”, conclui.
Mudança de atos e os impactos no planeta
Metal, fibra de coco, bambu, louça e vidro são alguns dos materiais que podem substituir o plástico nos produtos, afirma Katia Kuroshima. “Não apenas a substituição por materiais mais sustentáveis começam a acontecer, como também as pessoas passam a ter uma vida mais sustentável socialmente e economicamente, melhorando as relações interpessoais e a vida como um todo”.

O tempo de degradação do plástico, como comenta Katia, é de 400 anos. Se a população não adquirir hábitos mais conscientes e sustentáveis, não existirá local capaz de receber o lixo gerado. A oceanógrafa ainda diz que para reverter os danos causados ao meio ambiente, no momento, se apresenta inviável. Não há conhecimento do processo de degradação do plástico para acelerá-lo. Entretanto, o procedimento de conscientização, por mais lento e gradativo que seja, assim que iniciado o indivíduo percebe o bem que faz e dificilmente para de realizá-lo. Já Nicole acredita que é necessário a união entre a sociedade e as indústrias para reverter as consequências do plástico no nosso planeta.
Tamanho não é documento
Para a oceanógrafa, os oceanos são os ambientes que mais sofrem com os impactos do plástico, já que são receptores de todos os efluentes e tudo o que contêm neles. Segundo o estudo lançado pelo WWF, até 2030, 26 mil garrafas de plástico serão encontradas no mar a cada km2. Katia ainda categoriza os resíduos em dois tipos: macro e microplástico. O macroplástico pode provocar estrangulamento e sufocamento em animais de grande e médio porte. Da mesma forma, ela chama a atenção para os microplásticos, que afetam os micro animais, a base da cadeia trófica marinha.
Os microfragmentos de plástico possuem menos de 5 milímetros de diâmetro, mas são um dos principais poluentes presentes nos oceanos. Segundo a ONU Meio Ambiente, pelo menos 51 trilhões de partículas de microplástico estão presentes nos mares. Por conta de seu tamanho, o microplástico passa pelo ralo e pelas filtragens de água e chega, assim, aos mares, rios e oceanos. Para Kátia, os microplásticos em si já são causadores de problemas. Entretanto, a situação se agrava, pois eles servem de transporte para outras substâncias químicas, como metais tóxicos, pesticidas e herbicidas.
Anualmente, uma escova de bambu equivale a quatro de plástico, uma ecobag anula 792 sacolas plásticas, um canudo reutilizável é igual a 362 canudinhos. Objetos sustentáveis e duradouros são opções simples, mas que diminuem, drasticamente, a quantidade de lixo plástico no planeta. Se cada um substituir pelo menos um tipo de material de plástico na sua vida, já está fazendo o futuro da próxima geração mais sustentável e possível de existir.
