A saúde mental de mães de primeira viagem na pandemia

Insegurança se intensifica neste período de isolamento e distanciamento social nas mulheres que são mães pela primeira vez
Durante os nove meses de gestação, havia muitos planos para o nascimento e o pós-parto do seu primeiro filho. Porém, no dia 18 de março deste ano, o Governo do Estado de Santa Catarina decretou o fechamento de tudo o que não fosse essencial e a onda “fique em casa” iniciou. Tudo isso devido ao novo coronavírus. Já que no dia 11 de março a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizou a Covid-19 como pandemia. Desse dia em diante, o medo pairou na vida de muitas mães que estavam para dar à luz a qualquer momento.
É importante compreender como mães de primeira viagem passaram e estão passando por esse momento, pois, além de ser um dos momentos mais esperados da gestante, é um período de muitos conhecimentos e de cuidados. Segundo a psicóloga perinatal Marcela Silva, as diversas transformações da gestação, físicas e psíquicas, principalmente no que diz respeito ao funcionamento mental específico desta fase, colocam a mulher em um dos períodos de maior vulnerabilidade psíquica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma série de recomendações para a gravidez, o parto e a amamentação durante a pandemia. Na sala de parto, poderiam permanecer apenas os profissionais de saúde, o pai (caso estivesse sem qualquer sintoma gripal) e a mãe à espera. Nem mesmo uma fotografia profissional pôde ser tirada.

No dia 2 de abril, no Hospital e Maternidade Santa Luíza, localizado na cidade de Balneário Camboriú, Pietra nasceu. Por escolha dos médicos, a professora Priscila Evelyn dos Santos Brand precisou fazer uma cesariana. Independentemente do método, havia ali muita felicidade e emoção pelo nascimento da sua primogênita. Contudo, a proibição de visitas no hospital deixou Priscila preocupada. “Eu imaginei que seria de um jeito e foi completamente diferente, muito disso por conta do novo coronavírus”.
Consequentemente, as lembrancinhas escolhidas para agradecer aos visitantes precisaram ser guardadas para outro momento. Tomando todos os cuidados e precauções, nos primeiros dias, apenas os pais de Priscila puderam conhecer a neta. Mas, aos poucos, muitas fotografias foram espalhadas pelas redes sociais e grupos do Whatsapp da família. Todos queriam conhecer a pequena Pietra. Segundo a pedagoga Priscila Evelyn, é difícil dizer não aos que querem fazer visitas, pois muitos não compreendem todo cuidado necessário e esse distanciamento da recém-nascida com os demais.

Da mesma forma, no município de Chapecó, região Oeste de Santa Catarina, a manicure Aline Emanoeli Salvadego tem vivenciado o mesmo. Sua primeira filha, Vitória, nasceu no dia 23 de abril, no Hospital da Unimed em Chapecó. No caso de Aline, o parto foi normal. Diferente da cesariana, no parto normal geralmente a mãe pode levantar logo para cuidar do bebê, não tem dor após o parto e consegue caminhar com mais facilidade. Assim, Aline precisou da ajuda da sogra apenas na primeira semana. Após esse período, seu marido passou lhe ajudar.
Sobre seus medos, Aline Salvadego explica que antes já havia o questionamento se seria uma boa mãe, mas com a presença de um vírus a situação piorou. “Quando você descobre que vai ser mãe, os mais variados medos já começam a te rodear. Infelizmente, nesse momento de pandemia que estamos vivendo, o medo aumenta mais ainda”, comenta.
Aline Emanoeli Salvadego
“Quando você descobre que vai ser mãe os mais variados medos já começam a te rodear. Infelizmente, nesse momento de pandemia que estamos vivendo o medo aumenta mais ainda”.
O que une as duas recém-mães é a sensação de solidão e a ausência de demais pessoas compartilhando seu zelo e amor pela criança que acaba de nascer. Esse distanciamento do recém-nascido com os demais se deve pelo fato da imunidade do bebê ser baixa logo quando nasce. Não se pode garantir que todos estão saudáveis e que não possuem o vírus, então as visitas podem representar riscos à saúde do recém-nascido. Além disso, os próprios pais devem reforçar a higienização quando chegarem a casa, depois do trabalho, depois de uma ida ao mercado ou até mesmo ao pediatra. Utilizar a máscara, lavar as mãos frequentemente com água e sabão e o álcool 70%.
Da mesma forma, é importante salientar que o Ministério da Saúde incluiu no grupo de risco da Covid-19 gestantes e puérperas, mães de recém-nascidos com até 45 dias de vida. Segundo estudos feitos pela pasta, este grupo está mais vulnerável aos efeitos do vírus.
Além disso, o puerpério, o pós-parto, por si só já é uma fase de muitas transformações físicas e psíquicas na vida da recém-mãe, todas essas transformações dão a sensação de solidão. A mulher que já está mais focada em si mesma desde a gestação, compreende que tudo o que ela sente não é compartilhado por mais ninguém, o que intensifica a sensação de solidão.
Todo esse cenário já esperado, se intensifica neste período de isolamento e insegurança que a pandemia tem nos apresentado. Nesse momento é importante buscar alternativas para fugir do estresse ou ansiedade. Portanto, as trocas e compartilhamentos de suas realidades diminuem a sensação de solidão e validam as experiências que estão vivenciando, na medida em que percebem realidades parecidas com a sua.

A psicóloga perinatal Marcela Silva explica que cada mulher pode e deve encontrar formas de tornar um pouco mais leve a maternidade em tempos de pandemia. “Algumas mulheres têm buscado manter contato com suas mães, amigas mães, assim como os homens, pelas redes sociais, outras, além disso, se inserido em grupos terapêuticos de apoio on-line, serviços que têm crescido neste período, ou até mesmo, psicoterapia on-line com um profissional da psicologia perinatal.”
Portanto, o pós-parto dentro de uma quarentena potencializa tudo o que normalmente sentiriam nesta etapa. Mas, a psicóloga perinatal Marcela Silva possui uma mensagem para vocês: “apenas com a experiência, a partir da troca diária, das tentativas, da entrega e conexão com o seu bebê, você chegará às respostas que precisa. Porque a maternidade não é uma receita, não é previsível, é uma relação subjetiva, de seres humanos subjetivos. De qualquer forma seria um aprendizado intenso”.
Alguns perfis nas redes sociais podem auxiliar no enfrentamento desse período de isolamento. Um deles é o perfil “Querida Gestante” (@queridagestante) idealizado pela jornalista Xenya Bucchioni. Traz conteúdos de reflexão sobre os mais variados momentos da maternidade. Outro perfil é a “Morada Materna” (@morada.materna), um serviço on-line de saúde mental idealizado pelas psicólogas Marcela Silva e Thalita Cupertino, sobre psicologia perinatal e parental. Ambos no Instagram e com o intuito de deixar mais tranquilo esse momento único e muito importante na vida dessas mães.