Bocha conquista idosos por seus benefícios à mente e à saúde

Modalidade popular entre os idosos, a bocha ou boccie foi criada na época do Império Romano, e era praticada pelo exército

Um século mais dois anos e ele ainda estava dentro da cancha jogando bocha. Os olhos de Sidnei enchem de lágrimas quando relembra o amigo que morreu recentemente. Alfredo Ruaro não tinha mais força nos músculos, agilidade ou equilíbrio para praticar o esporte, mas com a ajuda dos colegas e, é claro, do cérebro, continuava frequentando os jogos. A bocha, praticada há mais de cinquenta anos no Brasil, foi oficializada em 1943 pela Confederação Brasileira de Desportos.


A modalidade esportiva é dividida em duas modalidades, a de lazer e oficial. Na orla da Praia Central de Balneário Camboriú, a bocha de lazer é praticada nas dez canchas espalhadas pela praia, sendo responsabilidade de grupos organizados em associações, cada um cuidando de uma cancha. Membro da Associação de Bocha Amigos da Tamandaré, Sidnei Roberto Rodrigues, 47 anos, explica que cada associação tem a sua diretoria e seu estatuto independente, sendo responsável por estabelecer as regras de convivência e dos jogos.


‘‘Durante o ano fazemos várias competições para realizar a integração entre as canchas e conhecer novas pessoas, é muito bom!’’, enfatiza. Para Rodrigues, ex-presidente da associação, a bocha é parte da vida, já que ele começou a praticar a atividade aos cinco anos. ‘’Meus pais e meu irmão sempre praticaram o esporte’’, destaca. Aliás, o caso de Rodrigues é incomum, já que a bocha não é tão procurada por jovens. O professor de educação física Mark Anderson Caldeira diz que essa situação se dá por causa da origem e características da bocha. “O esporte surgiu em ambientes tipicamente masculinos e feito por homens de idade mais avançada que se reuniam para confraternizar”, explica.

Foto: Maicon Renan


O encontro em que os jogos acontecem em Balneário Camboriú é animado e dinâmico. O cenário também ajuda, já que o mar está logo ali. Entre um ponto e outro, José Abila Filho, aposentado de 64 anos, que também é membro da Associação Amigos da Tamandaré, tenta explicar por que o jogo praticado nas canchas da praia não tem muitas regras. “O padrão foi eliminado porque existem muitas pessoas de idade que frequentam os jogos e não querem ficar presas há regras. Então, ficamos apenas com a regra da pontuação, quem chegar a 24 pontos, é vencedor”.


Para explicar a regra da pontuação, Sidnei apontou as duas cores de bocha, uma amarela e a outra azul. Cada uma vale dois pontos e o objetivo é a bocha chegar o mais perto possível do bolinho – ou bolim, uma bola menor. A equipe que aproximar mais bochas e chegar a pontuação máxima – 24 pontos – vence. “Aqui são oito bochas, mas as competições costumam ser 4 para cada grupo”, finaliza Sidnei.

Da areia para o carpê


A bocha de lazer torna-se brincadeira séria no solado de carpê. Com 24 centímetros de comprimento por quatro centímetros de largura, o solo oficial das competições abriga uma série de regras inexistentes nas canchas da praia. A bocha oficial pesa 980 gramas e o bolinho é de aço. Balneário Camboriú tem times oficiais que participam de competições estaduais e são apoiados pela Fundação Municipal de Esportes.

Foto: Maicon Renan


A técnica da equipe feminina, Sueli Zimmermann dos Santos, iniciou no esporte aos 35 anos, agora, aos 66, coordena a equipe feminina da fundação. ‘’Aqui em Balneário minha participação começou aos 57 anos, aliás, ainda não existia time, então eu fui até a prefeitura e comecei a formar a equipe’’, explica. Formada por no máximo dez atletas, a equipe chega a participar de doze competições por ano.


A bocha oficial é separada em três categorias, a individual, onde cada jogador recebe quatro bochas, em dupla, sendo que cada jogador recebe duas bochas, e o trio, com duas bochas para cada competidor. Além disso, a bocha oficial se difere da bocha de lazer, principalmente, pelo número de regras que regem o jogo. ‘’Nas competições, jogar a bola por cima é bochar ou dar, jogar a bola por baixo é comum e chama-se rafar’’. Ela também ensina que não pode tabelar, ou seja, a bola não pode bater na parede e depois no bolinho e sempre há juízes para auxiliar nas competições.


Em junho de 2016, as meninas foram campeãs da 9ª edição dos Jogos Abertos da Terceira Idade (Jasti), na modalidade trio. Os jogos aconteceram em Itajaí e reuniram mais de 150 equipes na bocha. A atleta Elfi Herget destaca o orgulho por ter vencido a competição ‘’Sou campeã estadual de bocha de Balneário Camboriú, nós fomos os únicos que ganhamos medalha de ouro representando a cidade entre todas as modalidades’’. A aposentada de 74 anos também joga nas canchas a bocha de lazer e fala sobre a experiência. ‘’Me sinto muito bem jogando a de lazer, é um divertimento para o idoso’’, sorri.

Foto: Maicon Renan


Apesar dos bons resultados, os atletas de Balneário Camboriú não têm um local próprio para treino, quando querem tem que ir a outras cidades. ‘’Como algumas das meninas tem carro, pelo menos duas vezes por semana nós vamos treinar em municípios que tem a cancha oficial, como Blumenau’’, destaca Sueli Zimmermann.


Além da feminina, outras duas categorias representam a bocha da cidade, a masculina e a paralímpica. Sueli finaliza com um convite para os mais jovens. Eles também são bem-vindos e poderiam ajudar a melhorar os resultados. Além disso, destaca a importância da prática esportiva. ‘’A bocha é muito mais que diversão, é um esporte que trabalha corpo e mente’’.

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