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Black Friday no Brasil: a moda já pegou?

Apesar de famosa, empresários e consumidores ainda tem suas dúvidas sobre a “onda negra”

Milhares de pessoas se amontoam nas portas das lojas. O trânsito das cidades entra em colapso. Sites de venda online caem a quase todo o momento. Pode parecer o Apocalipse, mas é apenas uma das tantas outras Black Friday’s que já aconteceram ao longo dos anos. A data, inclusive, leva o nome de “sexta-feira negra” exatamente pelo caos gerado nas ruas dos Estados Unidos, seu país de origem.

O termo surgiu no ano de 1869, após um fracasso econômico cometido pelos investidores Jay Gould e Jim Fisk durante a crise estadunidense. Porém, na década de 90, a polícia da Filadélfia reativou o código para tratar das ocorrências que aconteciam na sexta-feira após o dia de ação de graças, onde as lojas abriam suas vendas de fim de ano com preços abaixo do custo de fábrica.

Foi apenas questão de tempo para que os comerciantes dos Estados Unidos aderissem o termo “Black Friday” para aumentar o apelo publicitário acerca dos descontos oferecidos, da mesma forma que outros países aderiram a sexta-feira de saldão para conquistar o público e marcar o dia como ponto crucial de vendas.

No Brasil a “onda negra” chegou no ano de 2010, onde pouco mais de 50 lojas fizeram sua primeira-sexta feira de descontos “arrasadores”. E não demorou muito para a data se tornar famosa entre os brasileiros, conquistar também as lojas físicas e bater todos os recordes de faturamento de venda on-line, como foi o caso do ano de 2014, onde o lucro em vendas foi de 1,2 bilhão de reais, segundo a consultoria E-bit.

Para Flávio Sanchez Reverso, consultor de vendas de uma das maiores moveleiras do Brasil, a principal vantagem da Black Friday para o mercado nacional é o aproveitamento gerado a partir da propaganda feita pela própria mídia. Além disso, a ação de vendas traz um conforto maior pincipalmente para o varejo, já que, nesta data em específico, o consumidor se dispõe em ir até a loja, o que impulsiona o instinto de consumismo e gera, por si só, muitos negócios.

De acordo com o site Black Friday Sale, a “cesta de compras” do consumidor brasileiro pode aumentar em até 73% durante a data, o que gera um consumo muitas vezes irracional e desnecessário e aumenta significativamente as vendas nas lojas varejistas.

Valdeci Petry, gerente comercial da maior franquia de lojas de móveis e eletro de Santa Catarina, conta que a empresa adotou a Black Friday há seis anos, dando enfoque principalmente na área de vendas on-line, onde concentra-se a maior parte do lucro com vendas nessa data. Para ele, Black Friday é sinônimo de produtividade, já que em apenas 24 horas a franquia vende o equivalente ao volume de vendas semanal. “Outra situação vantajosa é a oportunidade e ter o produto anunciado em estoque à pronta-entrega em quantidade, o que cria uma fidelização do cliente”, completou.

Porém, a propaganda feita pela mídia e a confiança dos comerciantes não é o bastante para conquistar o consumidor. Apesar de ser uma data onde as lojas prometem grandes promoções, as denúncias por propaganda enganosa e preços abusivos só crescem a cada ano. Na edição anterior, o site Reclame Aqui recebeu cerca de 5,6 mil reclamações, 60% a mais do que o número registrado em 2017. Com isso, o Brasil conquistou a fama de um dos países mais fraudulentos na questão de veracidade dos preços prometidos, o que gera desconfiança em pelo menos 42% do público alvo das lojas, como revela uma pesquisa feita pela Opinion Box.

Lucas Estrada, de 28 anos, conta que na maioria das vezes que procurou produtos nas últimas edições não encontrou descontos tão expressivos, o que o desmotivou a continuar consumindo na Black Friday. Para ele, muitas lojas realizam promoções sérias, porém a maioria aproveita a oportunidade para aumentar a procura por produtos oferecidos nas mesmas condições do que em outras épocas do ano.

Além disso, a Black Friday brasileira está longe de atingir o propósito da edição original, vinda dos Estados Unidos. Enquanto os descontos aqui prevalecem na casa dos 40%, em terras norte-americanas esse saldo pode ser de até 90%. Para Willan Bryan, brasileiro que residiu em Nova York por um ano e meio, o que motiva essa queda tão significativa nos preços é a concorrência e estoques de coleções passadas, a fim de abrir espaço nas lojas para receber as novas coleções de inverno. Porém, o que realmente descaracteriza a ação de vendas feita no Brasil e contribui para que existam tantas fraudes são os tipos de produtos colocados em saldão. Enquanto nos Estados Unidos o principal ponto de desconto está no vestuário, os brasileiros concentram-se na linha de eletrônicos, o que nem sempre gera lucro para o lojista, ou seja, o volume de venda é grande, mas o resultado é pouco.

Mas então, até que ponto a Black Friday é vantajosa para o comerciante e o consumidor brasileiro? Flávio Reverso explica que, para grande parte dos investidores que apostam na data, a presença dos órgãos de defesa ao consumidor e o comprometimento da maioria das empresas em oferecer um serviço sério e de qualidade contribuem para tornar a ação mais eficaz se comparada à edição estadunidense. Assim, o consumidor é incentivado a ganhar confiança nas promoções, o que aumenta o número de vendas no varejo e contribui para abaixar os preços sem prejudicar o lucro das empresas. Ou seja, na melhor das hipóteses, é apenas questão de tempo para a Black Friday brasileira tornar-se tão grande quanto a dos Estados Unidos.

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