Projetos municipais de Itajaí e Balneário Camboriú despertam o movimento na terceira idade

A prática de exercício físico desempenha papel importante tanto para a saúde física como para a mental. Socialmente, a terceira idade é vista como a fase frágil da vida, quando a mobilidade é reduzida e o dia a dia deve ser repleto de descanso. A atividade física é, em qualquer faixa etária, uma fonte de endorfina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pelas sensações de prazer e bem-estar. Idosos que mantém os exercícios de forma constante são mais saudáveis e felizes.

Com o início da pandemia do coronavírus, pessoas acima de 60 anos ficaram mais vulneráreis. Como parte do grupo de risco, alguns deixaram de realizar suas funções diárias, como conviver com familiares e deixar sua residência para compra de itens essenciais. Psicologicamente, os idosos estão abalados e a prática de exercícios é capaz de desempenhar um papel de cura.

“As pessoas estão tristes, muitas vezes adoecidas, deixando de ir no médico por medo de serem infectadas pelo Covid-19, sem conseguir elaborar o luto por pessoas queridas que vieram a óbito neste período. Então, é fundamental que se tenha esse tipo de alternativa, com profissionais da saúde perguntando como essas pessoas estão. Logo, a oportunidade de fazer atividade de física, seja através da modalidade online ou com o instrutor, é extremamente importante”,

enfatiza a psicóloga Katia Simone Ploner, mestre em Psicologia Social e da Personalidade e coordenadora do Projeto de Promoção à Saúde do Idoso e seus Familiares.

A Fundação Municipal de Esportes e Lazer de Itajaí criou em 2006 o Programa Itajaí Ativo, que oferece atividades para toda a população itajaiense. Com a chegada da Covid-19, a Fundação recorreu a uma alternativa criativa. “As atividades em geral ocorriam com grupos em várias localidades de Itajaí, sendo atividades físicas como alongamentos, aquecimentos, caminhadas. Com a pandemia, estamos visitando nossos participantes em suas casas, fora do portão, mantendo o distanciamento”, explica o profissional de educação física Dionei Raulino, funcionário da Fundação desde 2014 e atuante no Itajaí Ativo.

“Quando o instrutor vai até a casa próximo do idoso, permite um pouco mais de diálogo e de interação social, que nesse momento também é muito importante, porque nós sabemos que a comunidade é o apoio e suporte social para o idoso. Ter com quem conversar, saber que vai receber uma visita, se preparar colocando a roupa para fazer atividade física, talvez até ter um outro vizinho próximo que também faça atividade naquele horário permite que, mesmo com distanciamento, ocorra a interação”.

Katia Simone Ploner

Sueli Carmen Sandri Schmitt, de 64 anos, é moradora do bairro Votorantim e já participava do Itajaí Ativo no modo presencial. Com as amigas, Sueli discute as aulas em um grupo do WhatsApp e considera os exercícios importantes para sua saúde psicológica.

“Com 60 anos eu tive uma pequena depressão e com isso várias amigas minhas me convidaram. Criei coragem e fui, isso me ajudou muito. Naquela uma hora a gente dá valor a nós mesmos. O negócio é não desistir. A gente acorda já com aquela vontade e quando chove a gente fica meio triste. Sempre digo: saúde é o que interessa e o resto não tem pressa. Tendo saúde, a gente corre atrás de outras coisas”.

Sueli Schmitt

Para atender os alunos em suas residências, as visitas ocorrem com maior periodicidade e Sueli geralmente é atendida duas vezes ao mês. “Os professores são maravilhosos e todo dia tem atividade diferente e todos esses anos foram maravilhosos. Eu tenho muita gratidão ao professor Dionei, porque é uma força de vontade muito grande dele de vir na casa de cada aluna. Com essa pandemia, isso não tem preço. Esse momento para a gente é muito importante”, destaca Sueli.

A Prefeitura de Balneário Camboriú desenvolveu a Secretaria da Pessoa Idosa (SPI), responsável por criar condições que promovam sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Entre as atividades, a SPI disponibilizava antes da pandemia aulas de instrumentos musicais, aulas de ginástica, biblioteca, palestras e cursos.

A solução para manter a oferta dentro do período de isolamento causado pela Covid-19 foi recorrer às transmissões ao vivo por meio da plataforma do Facebook. Os idosos podem usufruir de atividades como zumba e pilates, estimulação cognitiva, ritmos e alimentação saudável desde abril de 2020.

“A minha aula é desenvolvida da seguinte forma: alongar o que está encurtado, fortalecer o que está fraco e relaxar o que está tenso. As pessoas estão tensas em casa, cansadas. Eu trabalho não só o físico, como o mental. Sempre falo para eles colocarem um sorriso no rosto, com otimismo, esperança e fé para dias melhores”, explica a profissional de educação física e instrutora das aulas de alongamentos e fortalecimento muscular da SPI Marialba França Martins.

 “Trabalhamos a criatividade. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, a aula de ginástica não precisa ser maçante. Procuramos nos divertir, com músicas para cantar. Eu também me reinventei, porque costumava dar aula para 45 alunos e me vi falando sozinha com o celular, mas hoje eu tiro de letra. O retorno é muito bacana, com gente do Brasil inteiro, de Portugal e outros lugares do exterior”, destaca a profissional Marialba França Martins, que já chegou a reunir 210 pessoas em uma das transmissões.

Marialba costuma receber relatos de alunos que apresentaram melhoras em dores físicas provadas por artrite e artrose, mais comuns na terceira idade. O retorno positivo também diz respeito a saúde psicológica dos idosos, curados de crises de depressão com o comparecimento às oficinas da SPI.

“O projeto com aulas online precisa que as pessoas de terceira idade tenham uma facilidade com esse acesso. De um modo geral, o professor faz as atividades e as pessoas têm menos interação entre si, mas como uma prática de atividade física é muito importante.  Nós sabemos que o nosso o nosso o corpo produz endorfinas quando faz atividade física além de vários outros processos que ajudam na imunidade e bem-estar.  É importante inclusive para evitar depressão, uma estratégia para aliviar o estresse da pandemia. Então, nós sabemos que o exercício é fundamental independentemente da forma como seja feito”,

conclui a psicóloga Katia Simone Ploner.