
Em 1966, Truman Capote lançou “A Sangue Frio”, um livro que se tornou um marco no Novo Jornalismo. Com uma narrativa inovadora, ele conta a história de um assassinato brutal no interior dos Estados Unidos. Capote mistura elementos de ficção com técnicas jornalísticas, criando personagens fascinantes e explorando a complexidade da natureza humana. “A Sangue Frio” desafia os limites entre jornalismo e literatura e continua a cativar os leitores até hoje. Abaixo, você pode conhecer um pouco da relação entre a obra, o Novo Jornalismo e as suas contribuições para as discussões mais atuais, como o digital storytelling.
O Novo Jornalismo: uma busca pela subjetividade no texto jornalístico

Nos anos 60, o jornalismo seguia regras rígidas de objetividade expressas no famoso lead: o quê, quem, quando, onde, como e por quê. No entanto, muitos jornalistas ficaram descontentes com essa abordagem e foi assim que surgiu o Novo Jornalismo. Tom Wolfe, um dos principais expoentes desse movimento, defendia que era necessário evitar a impessoalidade presente nos textos jornalísticos considerados objetivos. Ele propunha abandonar os manuais de redação e buscar uma escrita mais subjetiva. Um dos exemplos mais notáveis desse estilo é o livro “A Sangue Frio”, no qual Tom Wolfe destaca os recursos utilizados na sua criação.
Em sua obra “Radical Chique e o Novo Jornalismo” (2005), Tom Wolfe apresenta quatro recursos fundamentais do Novo Jornalismo. Esses recursos foram sintetizados e exemplificados pelo jornalista Rafael Sant’anna Conceição em sua monografia intitulada “A verdade de Truman Capote: a tênue fronteira entre ficção e realidade em A Sangue Frio“, na qual ele utiliza trechos de “A Sangue Frio” para ilustrar esses recursos.
O primeiro recurso apontado por Wolfe é a construção da história a partir da passagem de cenas, sem seguir uma narrativa histórica convencional, mas sim focando em personagens, locais ou situações. Esses elementos são perceptíveis em toda a obra de Capote. O segundo recurso consiste no registro de diálogos completos e realistas, capazes de envolver o leitor e apresentar de forma eficiente as características dos personagens.
O terceiro recurso é o uso do ponto de vista em terceira pessoa, em que cada cena é apresentada através dos olhos de um personagem específico. Essa técnica permite ao leitor sentir-se dentro da mente do personagem, experimentando a realidade emocional das cenas. Por fim, o último recurso é a observação da vida cotidiana e sua transposição para a reportagem.
De acordo com Rafael Conceição, esses recursos estão presentes em “A Sangue Frio” de Truman Capote. Essa obra se destacou no Novo Jornalismo ao estabelecer uma relação entre jornalismo e literatura. Além de Capote, outros autores como Gay Talese, Hunter S. Thompson e, é claro, Tom Wolfe também questionaram a objetividade jornalística e utilizaram técnicas literárias para enriquecer o campo do jornalismo.
Digital storytelling: recursos tecnológicos para experiências imersivas
O Novo Jornalismo e o digital storytelling compartilham a mesma proposta de contar histórias de maneira envolvente e cativante. Enquanto o Novo Jornalismo surgiu nos anos 60 como uma abordagem que desafiava a objetividade tradicional, o digital storytelling utiliza recursos tecnológicos para criar narrativas interativas e imersivas.
Tom Wolfe, um dos defensores do Novo Jornalismo, trouxe uma nova perspectiva ao campo, explorando histórias humanas e incorporando recursos literários para tornar a leitura mais emocionante. Por sua vez, o digital storytelling aproveita as possibilidades tecnológicas, como vídeos, imagens e interatividade, para criar experiências envolventes que permitem ao público se conectar de maneira única com a história.
A união desses conceitos proporciona aos jornalistas novas possibilidades de contar histórias de forma impactante. Ao combinar os princípios do Novo Jornalismo com as ferramentas do digital storytelling, é possível criar narrativas envolventes e atrativas, que alcançam um público mais amplo e engajado. Essa abordagem criativa e dinâmica permite explorar diferentes formatos e estilos de narrativa, proporcionando uma experiência personalizada e interativa.
Ao adotar essas técnicas, os jornalistas podem aproveitar as plataformas digitais, como redes sociais e sites de notícias, para distribuir suas histórias de forma acessível e compartilhável. Isso amplia o alcance e impacto das narrativas, atingindo públicos diversos e tornando a informação mais relevante.
Em síntese, a combinação entre o Novo Jornalismo e o digital storytelling oferece aos jornalistas a oportunidade de criar narrativas memoráveis que transcendem as fronteiras convencionais do jornalismo. Esses dois conceitos se complementam ao buscar formas inovadoras de contar histórias, envolvendo e inspirando o público de maneiras únicas.
Para saber mais
- O filme Capote (2005), disponível pela Amazon Prime Video e pela Apple TV, retrata a vida do escritor durante a investigação do assassinato da família Clutter
- O assassino de “A Sangue Frio” escreveu seu relato da matança: em artigo, de 2017, o El País divulgou a investigação do The Wall Street Journal sobre uma outra versão dos fatos
- No canal Ler Antes de Morrer, a booktuber Isabella Lubrano faz uma resenha do livro, trazendo os motivos pelos quais é “considerado uma das melhores reportagens de todos os tempos”
- Para quem prefere áudio, a sugestão é o episódio sobre a obra na série sobre jornalismo literário do podcast Editoria Livre, apresentado por J. Fagner
- Ou pergunte ao ChatGPT, que ajudou a escrever este material, com as informações trocadas com ele