Lançado em 2006, Wattpad permite que usuários compartilhem suas histórias em comunidade com leitores e escritores de todo o mundo
Romance. Tragédia. Amizade. Drama. A diversidade de gêneros disponíveis para leitura na plataforma online Wattpad é imensa. O aplicativo que estreou em 2006, se tornou famoso nos últimos anos por permitir o compartilhamento de histórias com pessoas ao redor de todo o mundo. O sucesso desenfreado aumentou quando muitos autores independentes passaram a publicar suas próprias histórias com editoras brasileiras.
Com o desejo de fazer da escrita a sua profissão, Catiuch Coelho, 20 anos, acadêmica do curso de letras, conheceu a plataforma em 2013. O gosto pela leitura começou no ensino médio. Por influência de uma amiga, iniciou os seus primeiros rascunhos. Em sua concepção, o mundo literário a salvou de uma vida de ignorância, falta de aspiração, desejos e sonhos.
A sua primeira história compartilhada, intitulada Enrolados no Amor, trouxe como tema principal o romance de dois personagens com traumas do passado. Desde então, ela não parou mais de escrever e outros enredos passaram a ser criados e planejados, procurando transmitir sentimentos, emoções e lições de vida. “Compartilhar minha escrita com outras pessoas é algo desafiador, mas também é um experiência emocionante e empolgante”, conta ela.

No ano seguinte, o inesperado aconteceu: Atrás da Máscara, um romance de sua autoria, foi aprovado para publicação pela Editora Angel. Catiuch descreve a sensação de segurar o próprio livro nas mãos como incrível, algo que ela não esperava que fosse acontecer tão rápido.
Infelizmente, nem tudo é tão fácil quanto parece. Ter escolhido a escrita como uma futura fonte de renda tem seus empecilhos e ela tem completa consciência disso. “Não tem como fazer da escrita sua profissão se for escrever somente quando a inspiração bate. É preciso respeitar sua profissão e não existe forma melhor de fazer isso do que se dedicando exclusivamente a ela”, relata a estudante.
Assim como Catiuch, Bianca Mesquita, 25 anos, vê no Wattpad uma oportunidade de ser reconhecida. Técnica em enfermagem, Bianca escreve desde os 12 anos. Por quase quatro anos, acabou abandonando as histórias. Suas obras falam sobre feminismo, desapego, amizades tóxicas e slutshaming (expressão usada contra meninas que não se encaixam no padrão “moça de família).
Apesar do gosto pela escrita, Bianca não gostava de ler e tampouco tinha paciência para escrever. Só quando foi apresentada aos livros da trilogia “50 Tons de Cinza” as coisas mudaram. Postou uma fanfiction (uma história criada por fãs com base em algum produto midiático) no Anime Spirit, em 2014, e apenas no ano seguinte migrou para o Wattpad por perceber que seus leitores também acessavam a plataforma.

A maioria de seus enredos tem como foco o ambiente escolar e universitário, gravidez indesejada e conflitos familiares. Apesar do sucesso evidente, Bianca não pretende publicá-los fisicamente. “Tenho vontade de publicar um livro que escrevi ano passado. É um desafio e algo completamente fora da minha zona de conforto”, diz Bianca, que conta com quase dois milhões de leituras em suas histórias.
Publicitária e com um incessante desejo de transmitir emoção em suas obras, Gleici Carvalho conheceu o mundo literário em 2009, quando Harry Potter e a saga Crepúsculo eram sucesso entre os jovens. Sem acesso a todas as tecnologias atuais, como Netflix e a ultra velocidade da internet, ela se viu conhecendo também a escrita e seus encantos.
Pouco tempo depois, Gleici conheceu o site Nyah!Fanfiction, que possui um sistema semelhante ao Wattpad e oferece os mesmos recursos. “Eu passei praticamente a minha adolescência inteira nessas plataformas digitais para leitores. Houve uma época em que eu acessava muito mais estes sites do que o meu perfil no Facebook”, relata ela.

Aquele Idiota é um dos seus maiores sucessos no momento. A primeira publicação ocorreu no Nyah!Fanfiction e conta com mais de mil comentários. A obra é uma ficção adolescente que narra a história de Pedro e Luciana. A publicitária nas horas vagas se dedica em fazer pequenas adaptações para posteriormente registrá-lo como livro e lançá-lo, mesmo que de forma independente.
Com 21 anos, Gleici resume todas as sensações e oportunidades em gratidão. A troca de energia entre leitores e autores é gratificante. Os livros a ajudaram a contribuir para que outras pessoas possam desfrutar dessa sensação. “Não escrevo com o intuito de ficar famosa e nem para passar o tempo. Eu escrevo porque ainda sinto a mesma mágica que aquela garota de 12 anos sentiu quando recebeu o seu primeiro comentário”.
Aluna de jornalismo da Univali é destaque com obra no Wattpad
Abordando a fantasia com uma mescla de suspense, romance e reviravoltas surpreendentes, a estudante Isabeli Nascimento, do quarto período do curso de jornalismo da Univali, conheceu o mundo da literatura por incentivo dos pais. No começo, eram livros pequenos que posteriormente progrediram para os maiores e de repente eles não foram mais o suficiente. Foi nessa sede insaciável que, aos 12 anos, conheceu o mundo da escrita. O mundo em que podia desenvolver as suas próprias histórias.
Quatro anos depois, conheceu o Wattpad por recomendação de uma amiga que, ao ler uma de suas histórias, acreditou que valia a pena ser publicada. Este momento, infelizmente, é marcado por um choque de realidade. “Como qualquer garota sonhadora, quando publiquei minha primeira história foi como se tivesse sofrido um tombo. Quando se é jovem, criamos ilusões em que assim que as pessoas lerem suas palavras vão se apaixonar por elas e você vai se tornar uma escritora famosa”.

Isabeli permaneceu um bom tempo longe da plataforma, até que, em 2017, decidiu publicar a história Doze Badaladas. A trama nos apresenta a vida aparentemente normal de Suzanne Amelie Klintonn, exceto por ela ouvir vozes desde criança. Uma reviravolta acontece no seu décimo oitavo aniversário e tudo o que antes ela conhecia passa a ser um completo mistério. O livro já passou a marca de 9 mil leituras na plataforma digital.
O desejo de transformar a história em um livro físico está em encaminhamento, mas Isabeli tem os pés no chão, pois a escrita se tornou uma mescla entre passatempo e a oportunidade de ser reconhecida, uma vez que outras responsabilidades surgiram pelo caminho.
Procurando mostrar em suas obras que muitas coisas são apenas uma questão de ponta de vista e que algo dado como certo pode ser exatamente o errado, a acadêmica de 19 anos acredita que sejam os personagens a lhe contarem uma história, ao invés dela inventá-las.