Mulheres relatam abusos e plataformas não oferecem a ajuda necessária
Assédios ocorrem frequentemente em transportes públicos, mas, ultimamente, isso vem se tornando rotina dentro de carros de aplicativos, deixando muitas mulheres preocupadas e sem muitas opções para se locomover pela cidade.
A motorista da plataforma Uber, Patrícia Gonçalves, conta que muitas passageiras já relataram casos de assédio para ela e ficam felizes quando usam o aplicativo e recebem uma mulher para conduzi-las, se sentem mais seguras e até sentam no banco da frente. Um dos cuidados que a estudante Izadora Linhares tem ao usar esses apps é sempre sentar no banco de trás para evitar proximidade e um possível contato físico, estabelecer um diálogo e ficar de olho no caminho para se certificar de que está correto.
É fácil conhecer alguém que já sofreu algum tipo de abuso dentro desses transportes. Foi por isso que a escritora Clara Averbuck criou a hashtag #MeuMotoristaAbusador em 2017. O objetivo é justamente expor esses inúmeros casos e encorajar mulheres a denunciar os crimes. A tag foi bem recebida em todas as redes sociais, e muitos relatos surgiram:

Danielle Pereira relatou seu caso de assédio no Twitter

Thaia Wosniak também usou a mesma rede social para expor seu caso
A repercussão foi tanta que abriu espaço para uma discussão no Youtube fazendo referência à cultura do estupro existente na sociedade brasileira. A youtuber Nátaly Neri contou tudo que tem sofrido em um vídeo: “Com crescentes relatos de assédios, estupros, roubos e violência contra a mulher dentro desses carros particulares, eu entrei em estado de pânico e de exclusão social. Eu evito sair da minha casa e, quando eu saio, fico com medo de virar estatística também”.
Izadora conta que uma amiga já passou por essa situação. Em uma carona pedida por meio desse tipo de aplicativo o motorista falou frases inconvenientes que incomodaram-na, elogiando seu corpo e se disponibilizando para buscá-la quando quisesse. Patrícia incentiva suas clientes a denunciar os abusos, apesar dos responsáveis pelas plataformas declararem não conseguir localizar os motoristas em todos os casos.
Luiz Salgado, que trabalhou como motorista de Uber por um ano e meio, lamenta muito em saber que nem todos têm uma boa conduta perante às mulheres e que os casos vêm crescendo. Para ele, uma solução seria ter uma espécie de cabine fechada, impossibilitando o contato do motorista com o passageiro, além de monitoramento por câmeras dentro dos automóveis. Enquanto essas mudanças não são feitas, alguns cuidados são necessários e podem ajudar na hora de encarar uma viagem:
- Compartilhar os dados do motorista (nome, placa e modelo do carro) e sua localização em tempo real, pelo WhatsApp, ou compartilhando a rota com alguém dentro do app, por exemplo, com alguém de sua confiança;
- Sentar no banco de trás do carro para evitar muito contato;
- Estar atenta ao trajeto feito pelo motorista e questioná-lo caso faça alguma mudança repentina;
Se, mesmo com tantos cuidados o motorista for desrespeitoso, é possível denunciar pelo aplicativo, através da aba “Ajuda” e, em casos mais graves, é preciso tomar as medidas legais, como registrar um Boletim de Ocorrência, ligar para o número 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou procurar a Delegacia da Mulher mais próxima.
Algumas plataformas, como a 99pop, já disponibilizaram a ferramenta para pedir exclusivamente uma mulher como condutora. Além de já existir também aplicativos exclusivos para mulheres, como o FemiTaxi, Lady Driver, Venuxx e Nüshu. Nenhum deles chegou a Santa Catarina, portanto ainda é necessário ter cautela e atenção na hora de fazer uma viagem através desses apps.