Rede estadual de ensino avalia mudança no sistema de avaliação

Alunos catarinenses não possuem mais direito a exame final e nota média para aprovação agora é 6

Cerca de 530 mil estudantes da rede estadual de ensino voltaram às aulas com novidade em 2018. Uma mudança que agradou alguns e outros nem tanto. A Secretaria de Estado da Educação mudou o sistema de avaliação. Substituiu a média para aprovação de 7 para 6 e cortou o direito a exame final. O propósito da iniciativa, segundo Eduardo Deschamps, secretário estadual de educação, é reforçar o ensino e reavaliá-lo ao longo do ano. De acordo com Deschamps, a mudança é referente à resolução 40 publicada pelo Conselho Estadual de Educação em 2017, a qual orientava as escolas a fazerem progressão parcial para que os alunos passassem de ano mesmo sem ser aprovados em todas as disciplinas. Entretanto, a secretaria optou por manter a reprovação com alterações. O estudante passou a ter direito desde o início do ano letivo a atividades de recuperação paralela e até reavaliações, consciente de que não tem direito a exame final.

Algumas secretarias municipais de educação de cidades catarinenses aprovaram a proposta e a aderiram. Como foi o caso de Nova Trento, que adotou a nova metodologia de avaliação na rede municipal de ensino. Segundo o professor Moacir Fachini, secretário adjunto de educação do município neotrentino, uma reunião para efetivar o sistema foi realizada com a presença de pais de alunos. “Realizamos uma reunião aberta para os pais com o intuito de esclarecer a nova proposta, apresentando do que se tratava a mudança e quais seriam os benefícios oferecidos aos estudantes”, afirma. Após o término do primeiro semestre, no entanto, a medida já diverge opiniões nas comunidades estudantis. Fachini ressalta que muitos pais que haviam concordado com a alteração, passaram a discordar ao ouvir seus filhos se queixarem de dificuldade para atingir a média exigida.

“Confesso que recebi algumas reclamações de pais no fim do primeiro semestre. Me causou espanto, pois todos tinham entendido e estavam de acordo com a alteração”. – Fachini

“Confesso que recebi algumas reclamações de pais no fim do primeiro semestre. Me causou espanto, pois todos tinham entendido e estavam de acordo com a alteração. Nós não simplesmente estabelecemos uma nova média. Procuramos reforçar a qualidade do ensino em sala de aula oferecendo inclusive mais um professor para monitorar e auxiliar na aprendizagem”, comenta Fachini.

Para Gilmara Fernandes, mãe do pequeno Gabriel Fernandes, de oito anos, estudante da Escola Municipal Professor João Francisco Valle, a nova metodologia de avaliação é bem-vinda, porém, ela prefere que as alterações não virem rotina. “Acredito que a nova medida veio para reforçar o ensino das nossas crianças, mas no caso do meu filho, por exemplo, ano passado ele estudava com um propósito, este ano já deve alcançar uma outra média para passar de ano. A alteração foi positiva, contudo deve ser mantida para não atrapalhar o aprendizado”, argumenta a mãe. O pequeno Gabriel também aprovou a iniciativa, para ele passar de ano agora ficou mais fácil. “Preciso tirar apenas 6 para passar, antes era 7, ficou bem melhor”, comenta.

O pequeno Gabriel Fernandes, estudante do 2º ano da Escola Municipal Professor João Francisco Valle de Nova Trento, aprovou a iniciativa. | Foto: Matheus Lopes de Medeiros

Reflexos da mudança

Assim como a rede estadual de ensino, a secretaria municipal de educação de Nova Trento precisou capacitar seus profissionais do modo em que se adaptassem para realizar com excelência o processo de ensino e aprendizagem. Fachini destaca que antes do início do ano letivo diretores, coordenadores e professores receberam um curso de preparação, justamente para chegarem prontos para bem atender os estudantes em sala em aula. “É um processo gradativo, os profissionais passaram pelo curso, mas é no dia-a-dia que eles vão compreendendo e sabendo como auxiliar o aluno”. O mesmo se aplica para as instituições de ensino estaduais. Em Tijucas, a alteração foi bem recebida nas escolas de ensino Básico Cruz e Sousa e Valério Gomes Neto.

Sandra Regina Pereira, diretora da centenária escola Cruz e Sousa, enfatiza que a mudança trouxe benefícios porque está exigindo mais esforço dos alunos na busca pela média determinada o que resulta numa melhor aprendizagem. “Geralmente, sabendo da possibilidade de fazer exame final, muitos alunos não levavam os estudos a sério durante o ano letivo e, no fim, acabavam reprovados. Com essa mudança, já fazendo um levantamento do primeiro semestre, percebemos nossos estudantes mais dedicados. Esperamos que permaneçam assim até o fim do ano”, salienta.

Na escola Valério Gomes Neto a reação não foi diferente. Para Maristela Silva Souza, diretora há 16 anos da instituição, a secretaria estadual acertou ao realizar a alteração. “Vem sendo muito positiva, com toda certeza, nossos estudantes estão se esforçando mais”, ressalta.

A visão dos estudantes

Apesar de ter agradado a muitos, nem todos ficaram contentes com o novo sistema de avaliação. Estudante do 1º ano do ensino médio da EEB Cruz e Sousa, Higor Telles não aprovou a mudança. “Sei que a finalidade é ajudar, só que do meu ponto de vista muitos alunos não estão preparados para encarar essa realidade. Penso que a medida deveria ser adotada somente para as turmas que estão iniciando sua trajetória estudantil, como os alunos do Ensino Fundamental. Ainda não me adaptei à nova realidade”, frisa.

Por outro lado, Luana Simas, estudante do 3º ano do ensino médio da EEB Olívia Bastos gostou da iniciativa. “Está fazendo eu me dedicar muito mais aos estudos e isso vem contribuindo para que eu aprenda mais. No começo fiquei com medo de não dar conta do recado, porém estou bem feliz com o meu desempenho”, destaca.

Faltando apenas um semestre para o término do ano letivo, o assunto ainda diverge opiniões.

Projeto modelo

A alteração realizada pela Secretaria de Estado da Educação e seguida pela rede municipal de ensino de Nova Trento deve servir de exemplo para os demais municípios da região do Vale do Rio Tijucas, visto que, Tijucas, Canelinha, São João Batista e Major Gercino permaneceram com média 7 com direito a exame final na rede municipal de ensino. De acordo com Neide Reis, secretária municipal de educação de Tijucas, um estudo vem sendo feito na Capital do Vale visando efetuar a mudança no ano seguinte. “Estamos realizando um estudo minucioso, analisando se é viável implantarmos essa mudança em Tijucas. Até o momento, pelo o que observamos em Nova Trento, ficamos empolgados por fazer a alteração”, declara.

A secretaria municipal de educação batistense também vem estudando a implantação da medida. Para a secretária Rosely Peixer Tomasini, essa alteração pode representar um significativo progresso para a educação do município. “Conheço bem o trabalho do professor Moacir Fachini, para ele ter adotado uma medida do Estado é porque realmente faz a diferença. Estamos estudando para também aderir em São João Batista. Antes, é claro, precisaremos nos estruturar para oferecer a qualidade desejada por toda a comunidade estudantil”, finaliza.  

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