Cigarro eletrônico faz parte da rotina de um em cada cinco jovens brasileiros

O cigarro eletrônico, popularmente conhecido como “pod” ou “vape”, é consumido por um em cada cinco jovens entre 18 a 25 anos, no Brasil. A informação é de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Inicialmente, o cigarro eletrônico surgiu como uma alternativa para os usuários de cigarro convencional, que buscavam parar de consumir a droga. Por outro lado, acabou se tornando um novo vício, como explica a pneumologista Renata Viana:
“O cigarro eletrônico surgiu como uma tentativa de ajudar na cessação do tabagismo. A pessoa poder parar de usar o cigarro convencional e usar só o eletrônico pressupondo que o dano seria menor. Acontece que ao longo do tempo, os estudos têm mostrado que isso não é real. Na verdade, eu estou trocando um vício por outro vício, não muda nada, a substância é a mesma. Cigarro eletrônico, “vape” ou “pod”, tudo isso é a mesma coisa, só estão mudando o nome para tirar o nome ‘cigarro’, para afastar a ideia de que ele é ruim.”
Cigarro eletrônico e a ilusão do uso controlado
Dra. Renata conta que há cerca de 30 anos, quase 35% da população brasileira consumia o cigarro convencional. Porém, o trabalho de décadas da área da saúde possibilitou a redução da taxa para 9%.
Com palestras, educação, entrevistas, grupos de ajuda e diversas outras ações movidas pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte da população abandonou o vício pela nicotina.

Fonte: Instituto Nacional de Câncer – INCA
No entanto, o consumo da nicotina voltou à tona com a popularização dos cigarros eletrônicos. Em 2018, cerca de 499 mil brasileiros eram usuários de “pods” e “vapes”. Enquanto isso, em 2021 a taxa passou a incluir mais de 2,1 milhões de brasileiros, segundo dados levantados pelo Ipec Inteligência.
“Tem estudos que mostram que os pacientes que fumam cigarro convencional ou têm uma dependência em nível 6 ou 7 em 10. Quando eles trocam para cigarro eletrônico, para os “vapes”, após 6 meses essa dependência subia para um nível 8 ou 9. Então, na verdade, a dependência fica maior com o cigarro eletrônico. E essa nicotina que tem nas últimas gerações de cigarros eletrônicos, é uma nicotina muito mais forte. É uma super nicotina, porque é uma nicotina com ácido benzoico”, explica a pneumologista.
Experiência com o vício em cigarro eletrônico
Guilherme Barreto Munhoz, 20 anos, é um dos exemplos do vício em nicotina motivado pelo consumo do cigarro eletrônico. Guilherme relata que começou a utilizar o “pod” em festas, aos 18 anos. Dessa maneira, passou a esperar ansiosamente por cada evento, para que pudesse consumir os cigarros eletrônicos de seus amigos.
Apesar do consumo de cigarros eletrônicos ainda ser relacionado a festas, Guilherme afirma que o início da faculdade agravou seu vício. “Eu tinha acabado de começar a faculdade e lá tinha alguém fumando “pod” em todo lugar que eu ia, e me dava vontade. Como eu tinha amigos que tinham, comecei a fumar, e foi ali que eu comecei a viciar e pensei: vou comprar um”.
Com isso, o jovem passou a comprar semanalmente dispositivos descartáveis de 1.500 puffs – o que equivale a 5 maços de cigarro, considerando o teor de nicotina. Quem impediu que o vício continuasse foi seu pai, que encontrou o estoque de cigarros eletrônicos na gaveta de seu quarto. Este foi o momento em que Guilherme, com auxílio, buscou ajuda médica.
Hoje, fazem 6 semanas desde que Guilherme decidiu deixar a dependência em nicotina. Desde então, sente-se mais disposto, com uma maior qualidade de sono, resistência física e explica que é um processo difícil, que exige acompanhamento médico, mas encara como uma das vitórias mais importantes de sua vida.
“Para mim, a nicotina é a pior droga do mundo, porque além de ser legalizada, ela tá a todo momento aí na mão de alguém. Então você está andando na rua e vê alguém fumando cigarro, e dá vontade” finaliza Guilherme.
A busca pela cura do vício
A alta concentração de nicotina nos dispositivos de cigarros eletrônicos, mascarada pelas essências frutadas e substâncias como o ácido benzoico, que diminui a irritabilidade no consumo, pode explicar o vício dos jovens nos cigarros eletrônicos. Ainda, Dra. Renata afirma que a “super nicotina” em um cérebro ainda imaturo representa um grande risco, tornando a dependência muito mais difícil de ser tratada.
É importante ressaltar que além do vício, o consumo de cigarros eletrônicos, e consequentemente de nicotina, traz impactos significativos relacionados à saúde, tanto ao sistema respiratório, quanto cardiovascular.
Por fim, a recomendação da especialista para os que jovens que ainda não experimentaram o cigarro eletrônico, é que não o experimente, em nenhuma de suas versões. Logo, a indicação médica para os jovens que já lidam com o vício é buscar ajuda especializada.