Conexões Criativas e Solidárias: a moda como vetor expressivo e inclusivo

Conexões Criativas e Solidárias foi o título do painel promovido pela Univali na última quarta-feira, dia 22 de março, durante o XP Dive, para refletir sobre o nosso papel como agentes de transformação social a partir da indústria criativa. A palestra contou com a participação de Renata Pitombo, jornalista e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia;, Isabella Brazil, bacharel em gastronomia; Ester Carro, arquiteta e urbanista social; e, Paulo Nunes, que atua há 18 anos como Relações Públicas. Os convidados se apresentaram de forma híbrida, com transmissão simultânea do evento para os campi de Itajaí e Balneário Camboriú.

Renata Pitombo começou a palestra falando de algumas intervenções da moda como vetor expressivo e inclusivo, em que cita o sociólogo Marshall McLuhan, que traz a vestimenta como extensão da nossa pele. Em uma de suas obras, o livro Guerra e Paz na Aldeia Global, o autor descreve a série de dificuldades de locomoção das mulheres argelinas em um período de guerra, quando é solicitado a elas a retirada do véu, podendo perceber uma complexa relação entre corpo, roupa e entorno.

A apresentação da Renata explorou a importância cultural do vestuário na sociedade, destacando a moda como um meio essencial na comunicação/expressão. Ela usou a simples retirada do hijab (véu islâmico) que provocou o protesto realizado pelas mulheres sobre o uso obrigatório do acessório – a partir do sonho de ser livre para escolher o que vestir. O evento ocorreu no dia 12 de julho, considerado o Dia Nacional do Hijab e da Castidade no calendário oficial do Irã.

Na sequência, é trazido o autor Georg Simmel para ilustrar a representatividade e individualidade expressa através da peça de roupa, o duplo movimento que acontece entre a imitação e distinção dentro da moda. Segundo a jornalista, “todos nós temos a necessidade de nos distinguirmos, apresentar nossa singularidade e personalidade no mundo. Ao mesmo tempo, temos necessidades de imitação, fazendo com que a gente se sinta aceito, pertencente a uma comunidade”. Sobre esta fala, podemos associá-la aos grupos que são hoje representados por estilos. Como exemplo, podemos citar a tendência “Old Money” que está em alta no momento.

A roupa como criação do nosso modo de vida individual

Outro ponto que foi levantado pela jornalista é a capacidade que a roupa e a composição da nossa aparência tem para constituir potentes dispositivos de criação do nosso modo de vida individual. Para Renata, tudo é elemento importante da nossa existência e “re(existência)”, como ela brinca com a palavra, desde a forma como arrumamos o cabelo, se usamos ou não maquiagem, os acessórios que escolhemos para montar um look. Ela destaca que a roupa é significativa e cumpre um papel de protagonismo na nossa vida sendo utilizada para representar as nossas individualidades, comunicando características da nossa personalidade.

A professora ainda ressalta os papéis que a moda ocupa, sendo ao mesmo tempo, um espaço de comunicação, meio de comunicação e mediação entre os indivíduos e grupos sociais e culturais. Ela complementa:

“Moda é um instrumento de comunicação que representa tudo pela visualidade e é importante instigar a percepção desse jogo que a moda estabelece com a nossa corporalidade individual”.

Nesse sentido, o diálogo entre corpo e roupa, bem como a vestimenta e cultura vigente, nos faz perceber a rede de sentido estabelecida na construção da nossa aparência no dia a dia.

Após as discussões voltadas à moda como forma de expressão, foi o momento de tratar dela como meio inclusivo, nesse ângulo, Renata traz para o evento um aspecto importante que é percepção da modelagem que a roupa cria no nosso corpo e promove o  “alargamento do eu”, em que ela menciona a expressão do autor italiano Luigi Pareysón: “A vestimenta e a moda nos conferem um modo de ser, um estilo, um modo de formar”. Nessa perspectiva, é defendida diversas possibilidades de constituições corporais na contemporaneidade a partir da nossa composição da aparência e através das práticas vestimentares.

A moda, então, é um vetor da representatividade e da resistência, gerando a visibilidade de aparências diversas e múltiplas, conformando novas dinâmicas de reconhecimento da beleza e das próprias corporeidades. Desse modo, dando espaço a outros tipos de corpos em seus mais variados tamanhos e formatos, levando em conta como a moda sempre tratou do corpo ideal, do padrão estereotipado do corpo magro, branco e, em sua maioria, hétero. Renata contextualiza que, nas últimas décadas, tem se aberto mais espaço à diversidade destes corpos, e que está ocorrendo uma pulverização dentro da indústria fashion em relação à representatividade, trazendo uma denominação usada por ela de “politeísmo corporal”.

Protagonismo da moda

Em seu encerramento, Renata Pitombo discute o protagonismo da moda em três frentes principais, que desenvolve no seu escopo de trabalho: a moda com sustentabilidade, a moda e sua capacidade de representatividade e a relação da moda e fascinação. Ela conclui apresentando a produção exagerada de roupas de grife que acabam sendo descartadas em grandes lixões, evidenciando a necessidade da utilização de recursos sustentáveis e da revolução de uma indústria da moda que olhe para ela  já pensando em seu futuro, além de reforçar a importância de práticas contínuas para promover a diversidade e a inclusão na indústria fashion, bem como o potencial da moda para ser um vetor de resistência e representatividade.

Karina Morillo, Samara Vargas, Luciano Mesadri Giorgi, Joa Bitencourt e Bianca Luca

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