Em 11 anos, 157 mortes envolvendo brigas relacionadas ao futebol foram registradas nos Campeonatos Brasileiros
Paixão, gol, comemoração, grito, choro, correria e pancadaria. Uma linha traçada que exemplifica bem como começa a violência em jogos de futebol.
O amor por um clube não tem explicação, muitas vezes é até maior do que amor pela família. É uma paixão alimentada a cada jogo que passa. Porém, às vezes, motivados por um “amor” platônico, recorrem a “outro tipo de esporte”.
Histórico assustador
A violência no futebol brasileiro perdura desde os anos 70 e 80, nessa época, brigas já eram registradas nas partidas. Foi uma final de Copinha entre Palmeiras e São Paulo que ocasionou um dos casos mais memoráveis da violência entre torcidas organizadas.

Foto: Djalma Vassão/AE
No ano de 1995, após o apito final, torcedores do Palmeiras invadiram o campo e foram comemorar o título na frente da torcida Independente do São Paulo. O estádio passava por reformas e diversos pedaços de concretos estavam à vista dos torcedores. Objetos passaram a ser lançados, ocasionando na morte de Márcio Gasparin da Silva, um jovem de 16 anos.
Os registros de 2009 até 2019, de acordo com pesquisas do programa de mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), coordenados por Maurício Murad, foram de 157 mortes em 11 anos de Campeonato Basileiro, das séries A, B e C. O número de registros de confusões em jogos do futebol cresce a cada jogo.

Foto: Nathan Diniz
Em 2023, já foram registrados diversos conflitos entre torcedores, sendo o mais recente na 11ª rodada do Brasileirão Série A, no clássico entre Santos e Corinthians, realizado nesta quarta-feira (21).
Medidas protetivas no futebol
Com as frequentes brigas entre torcedores, medidas tiveram que ser tomadas para impedir essa violência. A nova Lei Geral do Esporte, sancionada em 14 de junho, anunciou que torcidas organizadas que promoverem, praticar ou incitar a violência em praças esportivas, poderão ser banidas por até 5 anos. A medida também serve para invasões a centro de treinamentos.

Foto: ASCOM/PMPA
O governo do Rio de Janeiro por anos tomou medidas contra as torcidas organizadas, todas as grandes organizadas das quatro forças do estado. Mais recentemente as torcidas Raça Rubro-Negra, Jovem Fla, Força Jovem do Vasco e a Young Flu foram proibidas de frequentar eventos esportivos por 90 dias após brigas no clássico entre Flamengo e Vasco no dia 13/03/2023. Punições como essa são frequentes. O governo já tentou forçar a torcida única, porém as brigas continuaram. As torcidas são tratadas como facções criminosas, as punições acontecem, mas sempre quando as torcidas voltam as confusões continuam.
Por vezes as confusões continuam mesmo quando as torcidas estão banidas, trocando os eventos esportivos pelas ruas e tomando-as como palco de ataques covardes e tristes. Em 2022 ocorreu um caso entre a Mancha Verde do Palmeiras e a Máfia Azul do Cruzeiro onde as torcidas de estados diferentes brigaram mesmo sem jogar entre si. Acontece que a torcida mineira viaja para São Paulo enquanto a palmeirense ia para Belo Horizonte, os ônibus se atravessaram e pararam para brigar no meio da estrada.
Paixão que causa violência
A fase de um time, as crises, problemas ou conquistas, não devem alimentar o ódio contra aqueles que vestem outra cor. Afinal, todos partilham do mesmo sentimento pelo seu clube do coração. Os amantes do futebol se apaixonam fervorosamente por um clube. Um sentimento que consome o seu tempo, por muito tempo, mas que não pode acabar em violência contra outras pessoas.
“A gente tem que dar um basta. Não dá para pagar o preço de um jogo de futebol com morte! Não dá!” Tite, em entrevista ao SporTV.
Quem acompanha futebol, e até quem não é muito fã, mas já foi a um estádio assistir uma partida, vê que as torcidas organizadas impulsionam a todos. Muitas vezes, as organizadas dão show nas arquibancadas, criam músicas, promovem mosaicos, motivam os jogadores, ainda há quem diz que a torcida ganha jogo.
Medo dos estádios
Uma pesquisa feita pelo Real Time Big Data para o Fala Brasil entre os dias 20 e 22 de março de 2023, apresenta que seis em cada dez brasileiros têm medo de ir aos estádios por conta da violência nas arquibancadas.
A pesquisa ainda aponta que 33% das pessoas – entrevistadas – têm o hábito de ir aos estádios. Já 67%, não vão, ou tem receio de ir por medo da violência nas arquibancadas.

Foto: Pedro Kirilos / O Globo
Questionadas sobre possíveis prevenções para diminuir os conflitos, 29% não sabem ou não responderam. Cerca de 36% apontaram que é necessário o aprimoramento policial; 23% que é necessário cumprir as leis e 18% acreditam que a torcida única nos estádios pode diminuir a violência.
Quando o cântico fora do estádio é de ódio, quebra a essência do futebol e promove o medo. Aqueles que amam o esporte não precisam da violência para ressaltar esse amor.